FGV vai revisar metodologia do índice nacional da construção ainda este ano
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), com a correalização do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional), promoveu, nesta sexta-feira (30), um encontro entre representantes da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e empresários do setor da construção sobre a metodologia de coleta e apuração do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC/FGV). O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz, afirmou que a ideia é começar um estudo de revisão do método de pesquisa ainda este ano. “Recentemente o setor da construção passou por uma modificação importante em função da alta dos preços, por isso existe a necessidade de se fazer uma análise mais profunda do segmento tentando entender o que mudou para no futuro melhorar os indicadores”
Na avaliação da economista do Banco de Dados da CBIC, Ieda Vasconcelos, o debate é importante. “Essa é uma oportunidade para que os empresários do setor possam conhecer a apuração dos preços dos insumos que fazem parte do INCC e verificarem como o aumento de preços exerce impacto neles”, destacou.
Braz contextualizou os participantes sobre como é feita a pesquisa e disse que o INCC é um dos índices mais antigos da FGV, tendo a coleta de informações realizada com fabricantes, atacadistas, construtoras e prestadores de serviços. “São obtidos cerca de 4500 preços provenientes de 2340 respondentes, abrangendo sete capitais”, apontou.
Também economista da FGV, Ana Castelo, ressaltou que só falar hoje da recuperação da construção não é suficiente, é preciso qualificar os dados de muitas formas. “Os números indicam uma recuperação muito forte em um curto período. O resultado superou o patamar pré covid e foi o melhor da série histórica da pesquisa do IBGE. O resultado da pesquisa é gerado a partir da interpretação de várias sondagens e o contexto de recuperação reflete no INCC. Como muitas questões afetam preço, o cenário da sondagem levou a comprovação desse aumento dos insumos”.
Carlos Eduardo Lima Jorge, presidente da Comissão de Infraestrutura (Coinfra) da CBIC, reforçou a necessidade de se conhecer os parâmetros do índice que refletem no setor. “A CBIC tem atuado para poder reequilibrar a oferta, pois o setor está com muitos problemas de reequilíbrio de contratos nas obras públicas. Precisamos entender a diferença dos métodos do INCC e Sinapi, qual a metodologia para estabelecer famílias de preços e saber se os dados da evolução dos insumos são públicos, por exemplo”.
André afirmou que os padrões são construtivos e uma revisão na estrutura de pesos é devida pela FGV, já não reflete mais a modernização do setor. “Tentamos verificar junto aos dados analíticos o que é mais relevante. Nossa produção estatística é ampla, cerca de 300 itens, com vários subitens que decompõem quais itens vamos pesquisar. Além disso, todos os resultados estão disponíveis em um banco de dados privados na FGV, para assinantes”, explicou.
Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) da CBIC, destacou a falta de diálogo e um, certo descrédito para estatísticas no Brasil durante a pandemia. “Parece que a indústria de modo geral esqueceu que o setor imobiliário gera 750 mil unidades por ano. Não passou pela cabeça dos analistas que o auxílio emergencial ia puxar tanto as famílias em pequenas obras também. Todos os números deveriam ter sido visitados. Espero que isso sirva de lição para todos os players, e que a partir de agora antes de tomar decisões tão significativas dialoguem antes com o setor”, frisou.
Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat) da CBIC, reforçou que a CBIC está buscando sensibilizar os setores envolvidos para que uma situação futura não afete o setor como aconteceu agora. “É importante atualizar os índices, em função da dificuldade de se prever o futuro. A sondagem da construção civil indica que o número de empregos de setembro caiu em relação a agosto, o que já é efeito do aumento de preço e desabastecimento”, disse.
Para Marcos Mauro, vice-presidente da CBIC a pandemia afetou vários setores, pois a indústria não esperava uma retomada rápida da construção e houve falta de insumos. Ele citou o caso do PVC, onde houve um aumento de mais de 200% nas vendas, em função das demandas do agronegócio. “Nesse momento a gente vive a tempestade perfeita, onde de todos os lados estamos sendo atingidos de alguma forma. Os dados da FGV reforçam isso, mas devemos olhar para o futuro e nos preparar para um 2021 diferente novamente”, alertou.
A metodologia da coleta de dados também foi questionada por Marcos Mauro, que colocou a CBIC à disposição da FGV para contribuir com a pesquisa. “A FGV tem que colaborar com setor da construção e com o Brasil, sendo necessário colocar esses dados de forma transparente para balizar o mercado. Muitas vezes os preços informados na pesquisa não estão acompanhando a realidade do mercado, por isso a CBIC, assim como ajudou o IBGE com os dados do SINAPI, pode contribuir com a FGV no INCC”, destacou.
Braz respondeu que a parceria é muito bem-vinda, bem como a ajuda para atualizar os locais de compra do setor. “Qualquer informação que nos oriente sobre onde os produtos estão sendo comprados é bom, pois assim confirmamos se nossa pesquisa de campo está em sintonia com a realidade da construção civil, concluiu.
A iniciativa integra os projetos ‘Inovação e Tecnologia’, realizado pela CBIC, por meio da sua Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat), e ‘Melhoria da Competitividade e Ampliação de Mercado na Infraestrutura’, da Comissão de Infraestrutura da Construção (Coinfra) da CBIC, em correalização com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional).