Logo da CBIC
19/02/2020

Boas práticas refletem no custo e na viabilidade dos projetos

O novo papel assumido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a queda nas taxas de juros abriram espaço para bancos privados, fundos e mercados de capitais investirem em infraestrutura. Com esse cenário, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional) realizaram na terça-feira (18), em São Paulo, o Fórum ‘Integridade, Sustentabilidade e Governança. Qual sua influência na financiabilidade de projetos de infraestrutura’.

“Reunimos diversos players que atuam na implementação de projetos de Concessões e Parcerias Público Privadas (PPPs) para debater sobre como o mercado avalia e precifica empresas e projetos que atendem a boas práticas em integridade, sustentabilidade e governança e chegamos à conclusão que esses fatores são hoje essenciais para garantir melhores condições à financiabilidade desses projetos, seja sob a ótica do financiador, do investidor ou do segurador”, explicou o presidente da Comissão de Infraestrutura (Coinfra) da CBIC, Carlos Eduardo Lima Jorge.

Segundo Lima Jorge, é importante que as construtoras entendam o real sentido de estabelecer a governança profissional em seus projetos. “Esse tipo de investimento, sem dúvida, terá reflexos positivos no desenvolvimento das concessões e PPPs”, afirmou Lima Jorge, que também preside a Associação para o Progresso de Empresas de Obras de Infraestrutura Social e Logística de São Paulo (Apeop), apoiadora do evento.

Fatores para impulsionar projetos de infraestrutura

O raciocínio foi referendado por Tatiana Thomé de Oliveira, vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal. “O Brasil precisa repensar todo o seu ordenamento jurídico e administrativo com relação às obras públicas e também em relação às parcerias, para torná-lo mais inteligente e funcional por meio de programa de integridade”, disse, durante o painel Integridade, sustentabilidade e governança como fator para impulsionar projetos de infraestrutura.

Para Oliveira, a redução de 187 para 81 marcos regulatórios traz modernização e inteligência ao processo. “É um passo relevante para a otimização do controle, pois dá rastreabilidade do uso do recurso, incentivam a sua boa aplicação e ainda avançam na desburocratização do processo, em especial o regramento diferenciado para obras mais simples, de valor de até R$ 1,5 milhão. Isso é necessário para fomentar o crescimento do país, com promoção de mais infraestrutura e geração de mais empregos e renda à sociedade”, avaliou.

O atual ciclo de investimentos deverá ser diferente dos anteriores pela falta de dinheiro do setor público para investimento, restando ao setor privado viabilizar a maioria dos projetos, segundo o presidente da CBIC, José Carlos Martins. “Temos que trabalhar no cenário macroeconômico para transformar o ambiente e a forma de entendimento das empresas de como se tornarem atraentes para a captação de recursos”, explicou Martins.

O superintendente da área de saneamento, transporte e logística do BNDES, Leonardo Pereira, explicou que o banco tem uma visão de efetividade na utilização dos recursos e prestação de contas para a sociedade e governo. “Aprimoramos processos internos e temos tentado disseminar algumas das propostas junto às empresas. Levamos quase três anos para ter sustentabilidade, governança e integridade, e hoje o tripé é uma exigência para os que tentam financiamento, pois os órgãos de controle vão rastrear se tiver um recurso público na obra”, argumentou Pereira.

Competitividade na obtenção de financiamentos e investimentos

Como fornecedores e o mercado de capitais avaliam organizações com integridade e projetos estruturados com sustentabilidade e por que elas podem ser mais competitivas na obtenção de financiamentos e investimentos? Esse foi o tema do segundo painel do evento. Para o especialista em análise de viabilidade econômico-financeira João Gualberto Rocha, como regra geral, quem concede crédito ou aloca recursos para um projeto de investimento, determina a aprovação e os limites de crédito em função do risco imputável ao tomador do recurso e ao projeto a ser financiado. “Empresas com boas práticas de governança, por certo, têm melhores chances de acolhimento de um pleito de recursos, já que boas práticas implicam em menor risco geral a médio e longo prazo”, opinou.

André Dabus, diretor de infraestrutura da Marsh Brasil, concorda que um processo de governança bem estabelecido amplia a segurança para todas as partes envolvidas, contribuindo significativamente para longevidade do contrato de concessão. “Os programas de integridade e sustentabilidade, muito mais do que influenciar positivamente nos custos, fazem a diferença para o segurador aceitar ou não os riscos apresentados”, avaliou Dabus.

Pensando em soluções para viabilidade de investimento em concessões e PPPs, o diretor do Santander, Daniel Green, comparou o modelo usado no Brasil com o de outros países desenvolvidos, que quando enviam uma proposta de financiamento para um ativo grande, anexam automaticamente um relatório completo de sustentabilidade, compliance e integridade. “Essa não é a realidade do Brasil, por isso acredito que a forma de manter a competitividade entre todas as empresas é imputar os custos à PPP, de forma que, independentemente de quem ganhar, o relatório será uma obrigação. Isso evita atalhos e baliza todos sob a mesma ótica de vigência técnica do projeto”, afirmou.

Na visão de Renato Sucupira, presidente da BF Capital, existem algumas variáveis para se manter atraente para os investidores. “Uma empresa sem o tripé integridade, sustentabilidade e governança vai ter mais dificuldade de acessar o crédito, além de condições piores do que as empresas que estiverem com esses itens em dia. Essas medidas também são fundamentais para a construção do desenvolvimento e competitividade do país, que sofria muito com a falta dessas questões no processo, que pesam bastante sobre cada avaliação”, registrou.

Governança empresarial e os investidores

O último painel abordou os principais desafios e aprendizados na implementação de governança empresarial e como os investidores avaliam esta gestão. Segundo Paulo Lopes, diretor da Way 306, as boas práticas aplicadas pelos gestores nos projetos, facilitam a melhoria do preço do ativo. “Fazer o certo, com governança, é sempre mais barato. E em 2020, já no segundo semestre, os processos licitatórios vão ocorrer com bastante intensidade. Por isso, se a governança não estiver bem estabelecida, pode acarretar problemas futuros durante o processo de concessões”, ponderou Lopes.

Otavio Silveira, diretor da IG4 Capital, contextualizou o atual momento como início do segundo grande ciclo de investimento privado (o primeiro começou em 1995). “Para se ter uma ideia, em 2018 o BNDES investiu R$ 69 bilhões contra R$ 300 bilhões de dinheiro privado, ou seja, o setor privado investiu quatro vezes mais. Já em 2019 esse valor que veio via financiamento privado deve ser 10 vezes maior que o público”, ressaltou Silveira.

A gerente de negócios do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Aline Verneque, trouxe exemplos de PPPs que tiveram sucesso no âmbito do estado e de municípios em Minas Gerais, e outros que em função de alguns processos inadequados, não foram tão bem-sucedidos. “Avaliamos que imprimir essa transparência ao processo e criar dentro da empresa mecanismos de boas práticas são exigências que o mercado não vai voltar atrás. As três palavras têm muita relevância no sucesso do negócio e na avaliação de riscos, trazendo para dentro das concessões uma confiabilidade maior”, frisou.

O Fórum é uma ação do projeto ‘Melhoria da Competitividade e Ampliação de Mercado na Infraestrutura’, realizado pela CBIC com correalização do Senai Nacional.

COMPARTILHE!

Agenda COINFRA

Este Mês
Comissão de Infraestrutura
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.