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08/07/2019

Artigo: As competências e características do trabalhador do futuro – Mais perguntas que respostas

Fernando Guedes Ferreira Filho é advogado e vice-presidente da Área de Política de Relações Trabalhistas da CBIC

Muito se fala sobre o trabalho do futuro, das alterações tecnológicas que certamente influenciarão nas competências das pessoas, na necessidade de atualização em formação acadêmica, no fim de profissões e outros. São alardes que de fato acontecerão. Assim como foram extintos – ou quase – o datilógrafo, o telefonista, o operador de telex, o ascensorista, existem profissões atualmente em voga que serão extintas em breve. Já estão na fila o carteiro, o agente de viagens, o trocador/bilheteiro, operador de caixa e outros. Isso porque a forma de trabalhar mudou e continuará mudando. Fenômeno natural e cíclico, como as relações humanas e econômicas são.

Essas conclusões, como sempre, partem da análise do cenário atual. É o momento da “Geração Y”, ou os millennials, que não querem nada fixo. Não querem ter carros, não querem comprar imóveis, não querem ter a obrigação de fazer coisas cotidianas, como cozinhar, lavar ou passar roupas. Querem independência, simplificação, praticidade, mobilidade e agilidade. Não querem emprego, querem trabalho.

A velocidade em que os millennials esperam que suas necessidades sejam atendidas determinará o fim de funções ou profissões, inclusive as que são consideradas hoje como sendo “do futuro”. Em um curto espaço de tempo já estarão ultrapassadas. Vejamos os gig workers, as pessoas que utilizam dos aplicativos de aproximação para oferecer seus préstimos, sem vínculo, com liberdade e autonomia, mas também sem proteção. A seguir a tendência atual, a função daqueles que utilizam dos aplicativos para entregar comida, por exemplo, será substituída por veículos não tripulados, como drones. A função dos que utilizam os aplicativos de carona remunerada será substituída em um futuro não muito distante pelos veículos autônomos, ou mesmo pelo aprimoramento dos sistemas de transporte público ou de mobilidade alternativa (uma necessidade para o estilo de vida dos millennials, que não querem ter carro). Usando desses exemplos, é possível perguntar: será o operador de drones uma profissão do futuro? Qual profissão hoje se enquadra o desenvolvedor de soluções para veículos autônomos? Como treinar esses profissionais? Quais serão as competências esperadas desses profissionais?

A velocidade das mudanças e da evolução tecnológica deixam claro que o profissional do futuro será aquele que tem mais facilidade de atualização técnica e adaptação aos novos tempos, além de poder fazer destacar as suas possibilidades de capacidade de criação. Diante disso, questiona-se muito como será o trabalho dos seniores, considerados aqueles com mais de 50 anos. Daqui a 30 trinta anos, o que farão os millennials de hoje (que terão 50 anos)? Não é preciso ser futurólogo para concluir que esses profissionais terão, como ocorre hoje, uma dificuldade grande de adaptação no mercado de trabalho, especialmente aqueles que não ocuparão posições de liderança ou hierarquia superior (lembrando que a independência típica da gig economy é refratária à hierarquia). Assim como hoje ocorre, será não porque são menos capazes, mas sim porque normalmente profissionais nesse momento de vida não conseguem tempo e oportunidade para que se atualizar da maneira que o ritmo tecnológico impõe. Dividem seu tempo profissional com o pessoal, família, filhos (em muitos casos os pais também), o que leva a uma dificuldade natural de requalificar. Um grande desafio, portanto, será a empregabilidade dessas pessoas. Lembrando que essa discussão ganha relevância com o debate da Reforma da Previdência, que prevê a fixação de idade mínima de aposentadoria (hoje, pelo relatório que está em discussão na Câmara dos Deputados, para os trabalhadores urbanos será de 62 anos para as mulheres e 65 anos para os homens).

Não obstante, se por um lado teremos o profissional cuja competência criativa se destaca (o jovem), a nova formatação do mundo do trabalho em muitos aspectos continua a exigir competências que são diretamente ligadas à vivência e conhecimento. Fato é que os profissionais de gestão de pessoas e relações trabalhistas têm aparentes paradoxos a esclarecer: o que será preciso para o trabalhador do futuro? O que o valorizará e determinará a sua posição no mercado de trabalho? Criatividade ou vivência? Adaptação ou conhecimento? Flexibilidade ou experiência? Hierarquia ou independência?

São mais perguntas que respostas. Quando falamos do futuro do trabalho, deveríamos e precisamos falar do presente, pois somente assim, por meio da reflexão constante e incessante, a sociedade poderá entender melhor o papel da tecnologia e evolução para jovens e seniores no mercado de trabalho.

*Artigos divulgados neste espaço, não necessariamente correspondem à opinião da entidade.

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