Entrevista – Basilio Jafet defende mercado saudável para recuperação econômica do país
A pandemia da Covid-19 ressignificou a moradia para a população brasileira e garantiu o aquecimento do mercado imobiliário nacional ao atender as novas demandas de imóveis.
Em entrevista exclusiva ao CBIC Hoje+, o presidente do Secovi-SP, Basilio Chedid Jafet, comenta, entre outros assuntos, a expectativa do mercado no pós-pandemia, os impactos do aumento do preço dos insumos da construção no mercado imobiliário e na vida dos brasileiros e a surpresa do segmento com a apresentação do Projeto de Lei da fase dois da Reforma Tributária, com mudanças no Imposto de Renda.
“O mercado imobiliário nacional tem de permanecer saudável, para que possa continuar contribuindo, como tem sido feito até agora, com a rápida recuperação econômica do País”, defende.
Confira trechos da entrevista a seguir:
CBIC Hoje+: O que garantiu ao mercado imobiliário ter ficado tão aquecido na pandemia?
Basilio Chedid Jafet: Com a pandemia de Covid-19, houve a ressignificação da moradia. O distanciamento social despertou ainda mais nas pessoas a importância da moradia para o bem-estar e a segurança. Ao mesmo tempo, muitas famílias perceberam a necessidade de imóveis maiores. Algumas fizeram um upgrade e outras buscaram cidades próximas a São Paulo para morar, e houve também aquelas que optaram pela compra de lotes, segmento bastante aquecido durante o ano passado. Resumidamente, o mercado imobiliário atendeu aos desejos e às necessidades da demanda.
C.H.+: Como está a venda de imóveis em São Paulo?
B.C.J.: A Pesquisa do Mercado Imobiliário do Secovi-SP mais recente é a de junho, quando o comparativo das vendas e dos lançamentos registraram recordes. No mês, foram comercializadas 6.837 unidades residenciais novas na cidade de São Paulo. O resultado foi 16,2% superior às vendas de maio (5.883 unidades) e ficou 129,1% acima das 2.984 unidades comercializadas em junho de 2020.
No mês, foram lançadas 6.940 unidades residenciais novas na Capital, volume 17,8% inferior ao apurado em maio (8.443 unidades) e 244,4% acima do total de junho de 2020 (2.015 unidades).
O mercado encerrou o primeiro semestre do ano com recorde de unidades residenciais lançadas e vendidas na cidade de São Paulo.
De janeiro a junho, os lançamentos totalizaram 27.114 unidades, superando o recorde anterior do primeiro semestre de 2019, com o registro de 20.157 unidades lançadas. As vendas apresentaram resultados ainda melhores, com 29.935 unidades comercializadas, superando a última marca de 19.641 unidades negociadas também no semestre inicial de 2019.Os números ficam mais significativos se considerarmos a média histórica dos registros dos primeiros semestres de 2004 a 2020, período em que a média de lançamentos ficou em 12 mil unidades e a de vendas chegou a aproximadamente 13 mil unidades.
No semestre, as vendas (29.935 unidades) superaram os lançamentos (27.114 unidades), demonstrando o aquecimento do mercado e a aderência do comprador às unidades ofertadas. Em números, o comportamento pode ser medido com o registro, em junho, de 45.446 unidades disponíveis para venda, volume que levaria 8,5 meses para escoar, considerando-se a média de comercialização dos últimos 12 meses (5.371 unidades).
Isso demonstra que o consumidor está em busca do seu imóvel próprio, seja para moradia ou como opção de investimento, para complementar uma futura aposentadoria.
C.H.+: Qual a expectativa do mercado no pós-pandemia?
Hoje, vivemos um cenário de aumento de insumos da construção, com expectativa de aumento da taxa Selic e elevação da inflação. Decerto que os preços dos imóveis irão subir, assim como a taxa de financiamento imobiliário. Porém, o mercado manterá seu dinamismo, em função da alta demanda por moradia que tem de ser atendida.
C.H.+: Qual o possível impacto da reforma do Imposto de Renda no mercado imobiliário?
B.C.J.: Todo o setor recebeu com surpresa a apresentação, em regime de urgência, do PL (Projeto de Lei) da fase dois da Reforma Tributária, com mudanças no Imposto de Renda, sem ter sido concluída a primeira etapa da reforma.
É necessário que antes de se realizar uma reforma tributária, aconteça a reforma administrativa. Primeiro, o governo tem de fazer a lição de casa, saber quanto vai cortar de gastos públicos, para depois apresentar uma proposta de simplificação de tributos, e não uma reforma ampla, que traga acréscimos de carga tributária na produção. Em especial no setor imobiliário, que tem se mostrado motor da recuperação econômica em meio a uma pandemia dessa magnitude, que ainda não acabou. As empresas não tiveram a oportunidade de recuperar as perdas acumuladas devido a essa crise sanitária.
O Secovi-SP tem promovido e participado intensamente dos debates e vem mantendo uma boa interlocução com o Ministério da Economia e com o relator do PL, o deputado federal Celso Sabino.
Estamos alinhados com as ações da CBIC e demais entidades parceiras. Já conseguimos alguns avanços, com a solução de problemas constantes do projeto, como o fim da tributação do Fundos de Investimento Imobiliário (FII) e do pagamento sobre dividendos de holding subsidiária, assim como a manutenção do regime de lucro presumido.
Ainda há muito a avançar para garantir a equilibrada atuação de segmentos fundamentais do setor imobiliário, como incorporações, loteamentos, locações e fundos de investimento.
O mercado imobiliário nacional tem de permanecer saudável, para que possa continuar contribuindo, como tem sido feito até agora, com a rápida recuperação econômica do País.
C.H.+: Por que se faz necessária a modernização do sistema cartorário para o mercado imobiliário?
B.C.J.: O Brasil é o país dos cartórios. E, lamentavelmente, cartório é usado pejorativamente como sinônimo de burocracia. Se existem legisladores e legislações que pretendem diminuir a burocracia excessiva dos cartórios, o setor quer e vai contribuir com propostas e sugestões, a fim de proporcionar celeridade no processo e para que o País melhore sua colocação no ranking Doing Business, do Banco Mundial. Menos burocracia favorece a vinda de investidores externos para o Brasil, estimulando a criação de empregos e os avanços da nossa macroeconomia.
C.H.+: Quais são os impactos do aumento do preço dos insumos da construção no mercado imobiliário e na vida dos brasileiros?
A alta no valor dos insumos vai pressionar os custos da construção. E esse aumento inevitavelmente, terá de ser repassado para os preços dos imóveis.
C.H.+: Qual a atuação do Secovi-SP na busca por melhores condições de importação de diversos materiais?
B.C.J.: O Secovi-SP apoia todas as iniciativas da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), assim como dos demais parceiros Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de São Paulo), Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) e SindusCon-SP (Sindicato da Construção), que têm demonstrado as consequências negativas dos aumentos inadmissíveis e inoportunos do cimento, concreto e outros insumos. O Secovi-SP também endossa a proposta da CBIC junto ao Ministério da Economia, pedindo a redução do imposto sobre a importação do aço para tentar resolver o problema do desabastecimento.
A insegurança com os custos de vários insumos pode prejudicar a atividade da construção nacionalmente, cuja projeção de crescimento, no início deste ano, era de 4%, com geração de 200 mil novas vagas de empregos.
É necessária a desoneração da taxa de importação do aço, para que o setor possa contar com maior oferta de fabricantes do insumo, a fim de que possam ser viabilizados empreendimentos, de uma forma geral, e em específico aqueles vinculados ao programa Casa Verde e Amarela.
C.H.+: Qual a expectativa com a 18ª edição da Convenção Secovi-SP?
B.C.J.: A Convenção Secovi-SP deste ano tem o mote “O que mudou e o que ainda vai mudar”. Em dois dias do mês de agosto (23 e 24) e em formato híbrido, o evento vai tratar de temas decisivos do mercado imobiliário, cujo desempenho positivo se destaca em tempos de pandemia. Trabalhamos para oferecer aos participantes um evento de excelência, com a presença de autoridades, empresários, especialistas e comentaristas, que tratarão de assuntos relevantes e apresentarão tendências, considerando o ambiente político, econômico e social brasileiro. Aguardamos a presença dos empresários de todo o País, que engrandecerão ainda mais os debates e irão contribuir para tornar a Convenção um grande sucesso.
C.H.+: Qual a sua opinião sobre a iniciativa da CBIC de mobilizar suas associadas para enfrentar a industrialização de ações judiciais sobre vícios construtivos?
B.C.J.: Consideramos fundamental essa mobilização. Também apoiamos a proposta que está sendo desenvolvida pela CBIC para sanar as lacunas legais que permitem essa industrialização. O regramento dos prazos terminativos para haver reclamação por vícios ocultos e a criação de instrumentos de garantia complementar, por exemplo, inibirão a má-fé de muitos que tentam se aproveitar de compradores de boa-fé.