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06/12/2019

Coluna ‘Construção em foco’: A mensagem do PIB

As boas notícias na economia brasileira começaram a se consolidar e os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) relativos ao 3º trimestre do ano, que vieram acima da média das expectativas, evidenciam isso.

A redução da taxa básica de juros, a recuperação gradual do mercado de trabalho, a inflação sob controle, a elevação do crédito e o encaminhamento da reforma da previdência são alguns fatores que ajudaram a melhorar o ambiente macroeconômico e, portanto, contribuíram para a expansão.

De julho a setembro a alta foi de 0,6% em relação aos três meses anteriores. Em valores correntes, o PIB alcançou, neste período, R$ 1,842 trilhão. Pela ótica da produção, o aumento foi de 1,3% na Agropecuária, 0,8% na Indústria e 0,4% nos serviços. Já pela ótica da despesa, o consumo das famílias cresceu 0,8%, os investimentos (formação bruta de capital fixo) registraram incremento de 2% e as despesas do governo – incluindo pessoal e demais gastos, exceto investimentos –, caíram 0,4%.

Nos últimos dias, várias análises foram realizadas sobre os resultados apresentados. Para alguns, a economia está fortalecendo o seu ritmo, para outros, a recuperação continua lenta. O certo é que com os dados relativos ao período de julho a setembro as projeções para a economia brasileira devem ser elevadas para o ano 2019 e não será surpresa se, para 2020, alcançarem 2,5%.

De forma geral, os resultados do PIB não deixam dúvidas: a retomada da economia é consistente, apesar do ritmo mais lento do que se esperava no começo do ano. O País deixou para trás uma séria recessão observada em setores estratégicos para o seu desenvolvimento.

Nesse contexto, o grande destaque é a indústria da construção. De 2014 a 2018 a queda do PIB do setor foi de 30%, enquanto a economia nacional registrou retração de 3,8%.  Agora os números evidenciam que a construção é um dos segmentos que está fortalecendo a recuperação nacional.

No 3º trimestre de 2019, na comparação com igual período do ano anterior, a alta registrada foi de 4,4%, a maior dentre todos os setores de atividades. Deve-se lembrar de que a última vez que o setor cresceu foi em 2013 e, por isso, esse resultado é importante, apesar da base de comparação ser deprimida.

Em todas as análises comparativas a construção civil cresceu, impulsionando o investimento e contribuindo positivamente para os resultados do PIB. Nos primeiros nove meses de 2019, em relação a igual período do ano anterior, o setor registrou alta de 1,7%. A melhora do ambiente macroeconômico e da confiança dos empresários contribuíram para esse resultado.

É necessário destacar a expansão nos lançamentos e também nas vendas do mercado imobiliário nacional, o que pode dinamizar ainda mais a construção no próximo ano. Nesse contexto, vale ressaltar a importância do crescimento do financiamento com recursos da caderneta de poupança. Assim, mesmo com as dificuldades com o Programa Minha Casa, Minha Vida e os parcos investimentos públicos em infraestrutura e saneamento, o setor acumulou, nos primeiros dez meses do ano, um saldo positivo de 124 mil novas vagas com carteira assinada, o que correspondeu a 15% dos empregos formais gerados no período.

Importante destacar o quanto a construção civil ainda precisa fortalecer o seu crescimento.  Enquanto a taxa trimestral para o PIB total está 3,6% abaixo do pico da série atingido no primeiro trimestre de 2014, a construção civil está 30% abaixo do pico observado nesse mesmo período. Mesmo diante dessa situação, o início da reação do setor já contribui para impulsionar e dinamizar as atividades econômicas nacionais, como aconteceu nos últimos dois trimestres.

Os resultados do PIB deixam uma mensagem clara: a construção saiu do fundo do poço e mudou a rota.  Deixou de cair e começa a trilhar o caminho do crescimento.  Agora é essencial dar sustentabilidade a essa recuperação em todas as suas esferas de atuação, ou seja, além do mercado imobiliário, é necessário um impulso da infraestrutura. Certamente essa recuperação será gradual, mas com impactos socioeconômicos importantes.

Muito se destacou que o desempenho da economia sofreu as consequências positivas da liberação dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) sobre o consumo. É necessário avaliar outro resultado que poderia incrementar e dar mais sustentabilidade ao PIB. Os R$ 40 bilhões liberados do FGTS se fossem investidos na construção poderiam gerar 305 mil vagas diretas no setor. Considerando as vagas diretas e indiretas o número chegaria a 456 mil.

Diante da mensagem implícita nos resultados do PIB fica uma reflexão: já pensou como a economia nacional estaria crescendo e consolidando o seu desenvolvimento se a construção conseguisse recuperar completamente as suas atividades?

 

A coluna ‘Construção em foco’, divulgada quinzenalmente no CBIC Hoje+, é assinada por Ieda Maria Pereira Vasconcelos, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e assessora econômica do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).

O acompanhamento do tema tem interface com o projeto Banco de Dados da Construção, desenvolvido pela CBIC com a correalização do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional).

*Textos divulgados neste espaço, não necessariamente correspondem à opinião institucional da CBIC.

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