Indústria da construção está no seu limite
Impactos negativos do PIB, aumentos no preço do asfalto e greve dos caminhoneiros fragilizam ainda mais o setor
No dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), confirmando mais uma queda da construção na economia, o setor ainda tem que encontrar solução para os impactos negativos gerados pelo aumento dos preços do asfalto e pela greve dos caminhoneiros. A indústria da construção, que representa mais de 50% do investimento e é grande gerador de emprego e renda, acumula mais um período de perdas e segue à margem dos sinais de reação da economia brasileira. O resultado do PIB confirma o novo encolhimento do setor no primeiro trimestre de 2018 — enquanto o país cresceu 0,4% a construção recuou 0,6%. Na prática, o PIB nacional cresce há quatro trimestres e a construção cai há 16 trimestres consecutivos. “Nosso setor está no seu limite. O investimento acabou, as empresas não têm acesso ao crédito, é grande a insegurança jurídica e ainda estamos lidando com incertezas como o preço do asfalto”, disse José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
A nova política de preços de materiais asfálticos adotado pela Petrobras já teve impacto considerável sobre todos os contratos de empreendimentos que utilizam esses produtos: obras rodoviárias, pavimentações urbanas, reposições de pavimentos em obras de saneamento, serviços complementares em loteamentos e urbanizações do Minha Casa, Minha Vida. A CBIC participou hoje de reunião no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), em busca de uma solução para o aumento dos preços mensais dos materiais betuminosos do asfalto. A entidade, por intermédio da sua COP (Comissão de Infraestrutura), busca solução para esse tema desde 2017.
Além disso, a estimativa é de que com a greve dos caminhoneiros o setor já perdeu mais R$ 5 bilhões de renda nesses 10 dias de paralisação, sem contabilizar os reflexos futuros. “A expectativa é de que após o fim da greve, o setor ainda leve de duas a três semanas para retomar suas atividades”, destaca Martins.
PESQUISA SOBRE OS IMPACTOS DA GREVE
Os impactos da greve dos caminhoneiros no setor da construção de Santa Catarina são crescentes. Pesquisa do Observatório da Indústria Catarinense revela que a indústria da construção concentra 12,5% dos empregos no estado e que 56% das empresas foram altamente impactadas pelo movimento. Dessas, 41% estimam que terão até 10% do faturamento mensal afetado e outras 22% estimam que o prejuízo será superior a 30%. De acordo com o levantamento realizado, 52% das obras do setor da construção já estão paralisadas devido à greve, e 56% das empresas dispensaram total ou parcialmente seus funcionários. No estado, 52% das empresas já identificaram falta de cimento, concreto ou argamassa.
PERDAS NO PARÁ
No Estado do Pará, o setor da construção tem sido impactado duramente pelas manifestações no que tange ao abastecimento das obras. “O Pará não tem um polo industrial significativo na produção de insumos que são utilizados nos empreendimentos. Então a maioria dos produtos passa pelo modal rodoviário, e com isso o desabastecimento é generalizado”, destaca o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará (Sinduscon-PA), Alex Dias Carvalho.
Segundo Alex Carvalho, muitos materiais básicos da construção civil agregados, como o cimento, que possui uma produção local, também têm sido impactados severamente, pois a entrada de Belém está praticamente fechada para o acesso de caminhões durante todos esses dias. Isso tem causado a paralisação e a falta de capacidade de planejamento em obras, com estoque limitado e escasso, apresentando condições críticas que só temos a lamentar.
Na mesma linha da CBIC, Alex Carvalho defende o restabelecimento da normalidade para o setor, um segmento que já vem de uma sequência longa de dificuldades e “nós não temos força suficiente para aguentar mais solavancos”.