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13/06/2022

A importância da segurança hídrica integrada aos aspectos econômicos

Água – Usar bem para usar sempre | Seguindo as comemorações em torno do mês do Meio Ambiente, a Comissão de Meio Ambiente (CMA), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), traz uma série de conteúdos especiais sobre os principais temas prioritários de atuação da área: Gestão Hídrica, Certificações Ambientais, Legislação Ambiental e Descarbonização. Esta primeira série é dedicada à Gestão Hídrica, também em comemoração ao Dia Mundial dos Oceanos (8 de junho).

Na última semana, a CBIC participou do evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente, nos dias 7 e 8 de junho, onde o primeiro Seminário abordou a questão da Segurança Hídrica e a Relação com os Aspectos Econômicos.

Durante o evento, o Oficial de Meio Ambiente e Água do Escritório da Unesco, Glauco Kimura, falou sobre o Programa Mundial de Avaliação de Água da Unesco – WWAP, criado em 2000 diante da necessidade global de se ter programas de avaliação e monitoramento dos sistemas mundiais de água doce de maneira regular.

Kimura apresentou o Relatório da ONU Água, lançado este ano com o tema “Água Subterrânea: tornar visível o invisível”. Esta edição procurou trazer uma luz ao assunto, que por ser subterrâneo, é um recurso invisível, e, por isso, mal compreendido, subestimado e mal gerenciado, na opinião do Oficial. O documento está disponível em idioma inglês neste link.

Os dados são impactantes: 99% de toda a água doce em sua forma líquida estão abaixo do solo e em média, 25% de todo o uso da água no mundo vem de fontes de águas subterrâneas.

“Com as mudanças climáticas e as crises hídricas globais, o recurso hídrico subterrâneo deverá ser tratado de forma diferenciada, pois tem o potencial de aumentar a adaptação dos eventos climáticos extremos, além de promover o desenvolvimento socioeconômico da sociedade, gerando empregos, apoiando a segurança hídrica e energética e reduzindo a pobreza”, disse Kimura.

Outro ponto importante abordado pelo Diretor da Adasa e do Conselho Mundial da Água, Jorge Werneck, foram os resultados obtidos no 9º Fórum Mundial da Água, realizado em 2021 no Senegal – uma nova abordagem na gestão da água – mais holística, sistêmica e integrada. Além disso, também foram apresentadas as principais propostas e ações: a urgente criação de um Fundo Azul Internacional para dar suporte à segurança hídrica aos povos e comunidades mais vulneráveis e investir fortemente na gestão da água no continente africano. Ainda está prevista a realização  da Conferência da Água, que será realizada em Nova Iorque entre 22 e 24 de março de 2023.

Werneck também ressaltou que o 10º Fórum Mundial da Água será realizado em 2024 em Bali, na Indonésia, e já estão sendo realizadas reuniões preparatórias para o evento.

A apresentação da vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Thelma Krug, trouxe mais dados alarmantes que influenciarão diretamente na gestão hídrica, no enfoque de eventos extremos globais:

1 – A mudança antrópica do clima aumentou a umidade atmosférica e a intensidade da precipitação (muito provavelmente em 2 – 3% por 1º.C);

2 – Aumentou evapotranspiração terrestre;

3 – Contribuiu para seca em verão de clima seco, incluindo a região sudoeste da América do Sul;

4 – Aumento de temperatura no Brasil de 3 a 4º. C em grandes áreas.

Gestão hídrica no setor da construção

A CBIC teve papel importante na condução do tema no setor a partir das publicações lançadas: Gestão de Recursos Hídricos na Indústria da Construção (2017), sobre conservação de água e gestão da demanda, Recursos Hídricos (2016), sobre o uso eficiente da água em edifícios residenciais e a mais recente publicação, de 2019, referente ao Guia de Normas de Conservação de Água, onde a entidade atuou diretamente na elaboração das normas técnicas em conservação e uso de fontes alternativas de água.

A consultora da CMA para a temática Recursos Hídricos, Virgínia Sodré, que atuou junto à CBIC na coordenação das Sessões Temáticas Urbano e Desenvolvimento durante o 8º Fórum Mundial da Água, realizado em 2018, em Brasília, traz uma visão sobre a evolução da discussão no tema.

Virgínia explica que foram criadas duas Normas Técnicas específicas para o setor: Conservação de água em edificações NBR 16.782/19 e Uso de Fontes Alternativas de Água Não Potável NBR 16.783/19. Segundo ela, os direcionamentos foram muito importantes e trouxeram muito respaldo para a área de engenharia como um todo.

“Com as normas, a gente trouxe uma evolução no setor, para os arquitetos, engenheiros e fabricantes de equipamentos, para que a gente conseguisse segurança na preservação de água. As normas também trouxeram uma visão integrada da gestão de água. Foi uma grande evolução em termos de normatização a nível Brasil, pois as normas deram diretrizes que vão ser seguidas e vão assegurar a conservação de água com a segurança sanitária nas edificações”, afirmou.

Para ter cidades mais resilientes, Virgínia aponta que é necessária a busca por infraestruturas verdes. “Hoje, nós queremos ter cidades mais resilientes. Buscamos reduzir infraestruturas cinzas. Temos que pensar na economia circular no reúso de água urbano para fins não potáveis, aumentando assim a segurança hídrica das cidades, utilizando infraestrutura verde na gestão das águas pluviais, reduzindo o impacto ambiental. É preciso replicar o ciclo natural da água. As infraestruturas verdes como jardim de chuva, podem reter e absorver temporariamente o escoamento das águas pluviais. Estas estruturas são eficazes na remoção de  poluentes, tais como nutrientes, produtos químicos e sedimentos carreados com o escoamento das águas. Além de tratar a água, estas infraestruturas permitem que mais de 30% da água penetre no solo. Com isso reduzimos o impacto na rede de drenagem urbana”, explicou.

A consultora ainda aponta que a nova lei do saneamento trouxe mais investimentos para o setor por meio das empresas privadas no segmento de água e esgoto, já a drenagem urbana, ainda está na “UTI”, porque se tem ainda pouco investimento no setor, os projetos de PPPs de drenagem urbana ainda são tímidas no Brasil, temos somente um projeto que está iniciando na cidade de Teresina no Piauí. “Vamos nos próximos anos colher os resultados da melhoria da qualidade de vida das cidades, com o tratamento do esgoto, mas temos muito caminho a percorrer”, reiterou.

Sobre a gestão hídrica integrada e a conservação de água, o presidente da CMA/CBIC, Nilson Sarti, ressaltou que ambas são vitais para o futuro do planeta. “Vejam o que estamos passando desde o ano passado, problemas de seca, de energia, entre outros. Tudo isso está se tornando frequente. A importância de cuidar das nossas bacias ficou muito clara no Fórum Mundial da Água. Todos os players precisam conversar, governo, sociedade, setor público e privado, em torno de como fazer a gestão dentro das bacias. Nos empreendimentos específicos, a gente caminhar para a gestão integrada e conservação de água para atingir o net zero de água. Ou a gente cuida ou a gente vai ficar sem água”, disse.

Para que o setor da construção se prepare e mobilize as empresas para essa nova gestão hídrica mais integrada, as estratégias envolvem: investimentos em fontes alternativas e renováveis, novas tecnologias menos intensivas em carbono, gestão e controle das emissões atmosféricas e estímulo a clientes e fornecedores para mitigar as emissões, oferecendo ferramentas inovadoras para promover o uso da água mais eficiente.

Virgínia aposta nos projetos Net Zero Water, que tem a intenção de neutralizar o impacto ambiental da edificação, do consumo de água, da gestão de águas pluviais na própria edificação, para justamente reduzir esse impacto.

Por fim, a especialista defendeu que toda a sociedade deve fazer a sua parte. “Toda gota conta. Toda gota faz a diferença. Vamos ser eficientes, mudar a mentalidade e valorizar a água. Também podemos fazer o nosso papel como indivíduos, com uma cultura de banho, de lavagem de louça diferentes”, finalizou.

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