
Crédito verde avança e amplia oportunidades para o setor da construção

O financiamento verde tem um dos maiores potenciais de expansão para a indústria da construção no Brasil e deve ganhar cada vez mais mercado nos próximos anos. A sinalização foi dada por especialistas durante painel do Encontro Internacional da Indústria da Construção (ENIC), na tarde da quinta-feira (10/04), que abordou as oportunidades e os desafios do financiamento para obras sustentáveis. Promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o evento acontece em conjunto com a 29ª edição da Feicon, no pavilhão 8 da São Paulo Expo até 11 de abril.
Segundo dados do setor, o financiamento verde é uma das linhas com maior disponibilidade de crédito, tanto via bancos quanto via mercado de capitais. O mercado de financiamento verde completa dez anos de existência em 2025 e movimenta, globalmente, US$ 1,8 trilhão em financiamento. No Brasil, são R$ 100 bilhões e, desse total, R$ 24 bilhões estão disponíveis para a construção.
“Os setores que mais captam recursos são os de energia e transporte. No Brasil, é papel, celulose, energia, água e saneamento”, comentou Gustavo Pimentel, senior partner Sustainable Finance da ERM. “Imobiliário e construção são o segundo segmento que mais capta recursos no mundo, mas no Brasil, só 1% desse total de crédito disponível foi usado. Então, a cadeia do Brasil precisa aproveitar esse movimento”, diz.
O Encontro Internacional da Indústria da Construção (ENIC) é uma realização da CBIC, em parceria com a RX | FEICON, apoio do Sistema Indústria e correalização com SESI e SENAI. O evento conta com o patrocínio oficial da Caixa Econômica Federal e Governo Federal, além do patrocínio da Saint-Gobain, no Hub de Sustentabilidade e Naming Room de Sustentabilidade; do Sebrae Nacional, no Hub de Inovação; e da Mútua, no Hub de Tecnologia. Também são patrocinadores do ENIC: Itacer, Senior, Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, Associação Brasileira das Indústrias de Vidro – Abividro, Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas – Abrafati, Anfacer, Sienge, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – Apex Brasil, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI, Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo – CAU/SP, Multiplan, Brain, COFECI-CRECI, CIMI360, Esaf, One, Agilean, Exxata, Falconi, Konstroi, Mais Controle, Penetron, Seu Manual, Totvs, Unebim, Zigurat e Yazo.
Requalificação urbana – Nilson Sarti, vice-presidente de Sustentabilidade da CBIC, afirma que a entidade tem mantido essa ponte entre a indústria e o governo federal para implementar e facilitar o acesso ao crédito verde, tanto via bancos como por meio de debêntures verdes. Segundo ele, a CBIC segue firme nas conversas para dar mais autonomia e oportunidade para todas as empresas do setor. “Vemos uma utilização ainda pequena diante da possibilidade de recursos. São poucas empresas que realmente conseguiram alcançar projetos com essa isonomia, mas sabemos que o mercado tem se preparado, tem investido, e os projetos estão cada dia mais sustentáveis. Então há uma grande oportunidade aberta para os anos que virão”, diz Sarti.
Uma das possibilidades de expansão do acesso a esse crédito está no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição possui uma linha para a economia verde de R$ 38,1 bilhões, em operações de crédito diretas, indiretas e mistas. “Dentro disso, por exemplo, há financiamento para cidades resilientes — projetos que reduzem riscos de desastres, como sistemas de parques, revitalização de rios e requalificação urbana, incluindo moradias populares do Minha Casa, Minha Vida”, afirmou André Albuquerque Sant’Anna, hgerente de clima do departamento de sustentabilidade do banco.
A regulamentação da taxonomia verde, que estabelecerá uma padronização, dentro do contexto do desenvolvimento sustentável, para possibilitar o mapeamento de ativos e projetos sustentáveis, também foi colocada como discussão fundamental para ampliar o acesso a esse tipo de crédito no setor imobiliário. “Se queremos pensar em um país sustentável, o setor imobiliário tem que ser mais olhado. O maior capital de investimento tem de vir do setor da construção. É preciso que isso seja enxergado pelo mercado financeiro. Então, precisamos usar a força do mercado para conquistar e reconhecer essa necessidade”, defendeu Diogo Castro e Silva, investidor e CEO da Nostrum Partners.
Para Nilson Sarti, o maior desafio atualmente é aproximar pequenas e médias empresas desse tipo de crédito. “Temos projetos de captação de água de chuva, de reúso de água, de placas de energia solar. O setor tem investido em sustentabilidade, com diferentes alternativas — até mesmo na diminuição do uso de concreto, por exemplo. Temos trabalhado junto aos bancos e ao governo para que todos consigam acesso a esse crédito”, conclui.
O tema tem interface com o projeto “Descarbonização e Integração aos Compromissos da COP 30”, da Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade (CMA) da CBIC, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).