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AGÊNCIA CBIC

03/01/2011

O enigma Dilma

CBIC Clipping

03/01/2011 :: Edição 035

Revista Istoé Dinheiro/BR   |   02/01/2011

O enigma Dilma

A nova presidente tem o desafio de imprimir sua marca num governo com nomes já conhecidos e com bom trânsito na economia

 Por Denize Bacoccina e Guilherme Queiroz

 Na galeria de fotos, muitos rostos estão repetidos e alguns apenas mudaram de lugar. A equipe econômica da presidente Dilma Rousseff traz tantos ministros do governo do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que, à primeira vista, a impressão é de continuidade.

 Mas, apesar dos nomes conhecidos, não é certo que a área econômica vá manter exatamente a mesma conduta dos últimos oito anos. A novidade, no pequeno grupo que vai ditar os rumos da economia, é a volta de Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda que agora assume a chefia da Casa Civil, o mais importante de todos os ministérios. "Cuidarei da estabilidade econômica e do investimento tão necessários ao crescimento e ao emprego" Dilma Rousseff, presidente da República Embora não seja diretamente responsável pela economia, a presença de Palocci no Planalto é vista como um sinal de que o novo governo vai valorizar a responsabilidade fiscal e levar a sério a promessa da nova presidente de reduzir os juros reais para níveis internacionais até o fim do mandato. "Cuidarei da estabilidade econômica e do investimento, tão necessários ao crescimento e ao emprego", prometeu Dilma no discurso de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral, em 17 de dezembro.

 Apesar de receber o País com um crescimento de pelo menos 4% assegurado para o próximo ano e a menor taxa de desemprego de sua história, ainda são muitas as incertezas sobre os rumos que Dilma dará ao governo. "É um governo de continuidade, porque é um governo do PT", afirma o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. Há quem preveja mais dificuldades do que antes. "É um Ministério envelhecido. O projeto político é de continuidade, mas o governo vai ter que responder a outros desafios. Dilma terá que transformar este capital eleitoral em prestígio político nas relações com o Congresso e coordenar uma ampla base de apoio no Legislativo", diz o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências. A base aliada tem 311 deputados e 59 senadores, o suficiente para aprovar leis de interesse do Executivo e até alterações na Constituição. Mas, pelo menos por enquanto, grandes mudanças não estão na agenda da presidente.

 A Casa Civil é de onde sairão as questões importantes no próximo governo. "Tudo o que houver de relevante sairá da Casa Civil. A agenda legislativa está na cabeça do Palocci", afirma Almeida. Ele espera que, por conta da influência do ex-ministro da Fazenda, o governo Dilma faça o que não foi feito nos últimos anos: algum tipo de controle de gastos de pessoal, reformas microeconômicas, desoneração de investimentos, ampliação da participação privada em alguns segmentos e, acima de tudo, austeridade fiscal. Depois de quatro anos de atuação nos bastidores na Câmara dos Deputados, Palocci volta ao Executivo tendo ajudado na aproximação de Dilma com empresários e banqueiros durante a campanha. O ministro também ajudou a articular a coligação de dez partidos que a elegeu e agora negocia com os aliados a divisão dos cargos de segundo e terceiro escalão. "O Palocci negocia de forma clara, não promete o que não pode cumprir. Cria menos atrito", avalia o deputado Jovair Arantes, líder do PTB na Câmara. Sindicalistas já enxergam disciplina fiscal do ministro na resistência do governo em elevar o salário mínimo além dos R$ 540 já prometidos. "Ele é bom de diálogo, mas o que vier contra o trabalhador nós colocamos na conta dele", diz o deputado Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.

 Na equipe econômica propriamente dita, a permanência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, também não pode ser vista como uma simples continuação do governo Lula. Se nos últimos anos Mantega deu aval a fortes aumentos dos funcionários públicos e à elevação de gastos para estimular a atividade econômica, agora que a economia ganhou velocidade e a inflação voltou a ameaçar os desafios são outros e o ministro já mudou o discurso. "Vamos reduzir os gastos, melhorar a poupança pública e reduzir a taxa de juros", disse no início de dezembro, quando anunciou até mesmo adiamento de algumas obras do PAC, considerado intocável no governo Lula. Mas as promessas de maior austeridade fiscal ainda são recebidas com ceticismo pelo mercado. "O novo governo diz que vai cortar gastos agora para aumentar o crescimento.

 Mas por enquanto isso para mim é só gogó", diz o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências. "Mantega está lentamente operando uma mudança. Depois de patrocinar um aumento considerável no gasto público, agora está com discurso diferente, mas temos que esperar um pouco para ver o que vai de fato acontecer", avalia o cientista político Octávio Amorim Neto, professor da Escola de Economia da FGV-Rio. Para o cientista político Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice, Mantega tem crédito pelo que já fez. "Pode não ser a equipe dos sonhos do mercado, que gostaria de ver um grupo com maior compromisso fiscal, mas o Mantega teve um bom desempenho no governo Lula", afirma. A indicação de Alexandre Tombini, funcionário de carreira, para a presidência do Banco Central é um sinal, na visão de alguns, de que neste governo haverá maior coordenação entre a Fazenda e o BC. "Minha expectativa é a melhor possível.

 Todos amadureceram nesses últimos anos", diz Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Ele não espera a repetição dos embates entre Fazenda e BC, que exigiram "arbitragem presidencial" em várias ocasiões. "Espero que as ações do Banco Central sejam respaldadas tecnicamente pelo Executivo, dando um sinal de maior coesão e harmonia entre a política fiscal e a monetária. O País precisa dessa coesão para que possamos conviver com juros reais progressivamente menores", avalia. Tombini foi um dos responsáveis, em 1999, por coordenar no BC os estudos que viabilizaram a adoção do sistema de metas de inflação, que serve de referência para a atuação do Banco Central. Escolhido, disse que recebeu da presidente a garantia de que a instituição continuará desfrutando da autonomia operacional que teve no governo Lula.

 No Ministério do Planejamento, Lula emplacou Miriam Belchior, coordenadora do PAC na Casa Civil e preterida para a sucessão de Dilma quando ela deixou o ministério para se candidatar. Miriam foi mulher de Celso Daniel, prefeito de Santo André assassinado em 2002, que estava cotado para coordenar a campanha presidencial daquele ano. Na prefeitura, ela trabalhou com Gilberto Carvalho, chefe de Gabinete de Lula e agora secretário-geral da Presidência, seu amigo mais próximo no governo. Para o Planejamento, Miriam leva a coordenação do PAC e do programa habitacional Minha Casa Minha Vida.

 Considerada uma gerente implacável, a nova ministra prometeu olhar atentamente para os gastos do governo e ajustar a máquina pública para "fazer mais com menos". É elogiada por interlocutores do setor privado. "O pessoal dela está entrosado e deve cuidar para manter os programas andando. Temos um diálogo muito fácil", relata Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Mas o rigor nos cortes não será bem-visto no Congresso. "O fim de ano foi um desastre para as emendas. Não pode exagerar no corte, mesmo com o argumento de que se trata do primeiro do governo", diz o deputado Jovair Arantes.

 O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior não pode ser comparado em nível de importância às pastas da Fazenda e do Planejamento ou à Casa Civil, mas o ministro Fernando Pimentel chega com credenciais imponentes ao governo. Ex-prefeito de Belo Horizonte, tem fama de gestor competente e deixou o governo da capital mineira com aprovação superior a 90%. Seu grande trunfo é a relação de amizade e confiança que mantém com a presidente, de quem é amigo de escola. É uma indicação de que a pasta ganhará importância no novo governo e uma esperança de que medidas para aumentar a competitividade da indústria brasileira finalmente comecem a sair do papel. Com a estabilidade assegurada, é na agenda microeconômica que se concentram os maiores desafios do novo governo. Um deles é avançar além do aumento do mercado consumidor ocorrido no governo Lula, quando milhões de brasileiros pobres ascenderam à classe C e passaram a consumir. Agora, é a hora de assegurar medidas que deem estabilidade e sustentabilidade ao crescimento no médio e longo prazo.

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