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AGÊNCIA CBIC

11/06/2014

Interrupção e construção

"Cbic"
11/06/2014

O Globo Online

Interrupção e construção

A negatividade absoluta de alguns desune, é inútil e mesmo perigosa

Toda vez que compartilho, no Facebook, artigos "negativos" sobre o presente estado de coisas no Brasil, dezenas ou mesmo centenas de pessoas curtem. Por negativos, com aspas, refiro-me a denúncias sobre a incompetência dos governos, estruturas sociais injustas, todo tipo de lógica ou ação que visa a perpetuar as desigualdades, mas também as ações de categorias profissionais, movimentos sociais e ativistas em geral que têm como objetivo pressionar os governos a favor de suas causas concretas ou demonstrar uma insatisfação mais geral e sabotar o andamento normal dos conluios perversos. "Negativo", portanto, vai aqui tanto em seu sentido coloquial (coisas ruins), quanto em sentido filosófico (a negatividade, a insistência em um vazio – no caso, a revolta contra as instituições, e mesmo contra a institucionalidade). Quando, entretanto, compartilho artigos "positivos", notadamente sobre ações importantes dos governos – o silêncio é quase total.

A meu ver, se algo vai bem na sociedade brasileira, é justamente a sua convulsão. Parece mesmo que, desde junho de 2013, boa parte da sociedade entrou num movimento de longo prazo cujo sentido é sabotar o funcionamento normal das anormalidades, a fim de deixar claro que, se não forem efetivados os desejos de transformação, nada vai funcionar  . Nesse sentido, vivemos uma espécie de greve social, senão geral, ao menos generalizada. Cada categoria que para está dizendo isso. Se não houver aumento, se não houver dignidade, disseram os garis, não vai ter limpeza urbana. O mesmo dizem os metroviários em São Paulo, o MTST e tantas outras categorias: se o sistema político brasileiro não se alinhar às demandas por promoção de igualdades, tudo será interrompido, dificultado, sabotado   (no sentido histórico-etimológico da palavra). O #nãovaitercopa não significa outra coisa.

É nessa pressão, nesse movimento de interrupção que me parecem estar nossas maiores possibilidades de transformação social. As eleições vêm aí, e é claro que Aécio Neves, Eduardo-Marina e Dilma não significam a mesma coisa, mas, ao mesmo tempo, significam: todos estarão submetidos à lógica pemedebista que falsifica o sistema político, minando a capacidade de ação transformadora das instituições. É essa lógica a causa talvez principal do atraso social brasileiro. Como ela não pode ser desmontada desde dentro – pelo mesmo motivo pelo qual a raposa não pode tomar conta do galinheiro -, é a sociedade que deve miná-la desde fora, e é isso o que estamos vendo. Em um ano de protestos e greves, a pressão produziu algumas conquistas notáveis.

Justamente, tão importante quanto os movimentos de interrupção é o reconhecimento das ações progressistas. O clima de colapso geral só propicia soluções autoritárias. É preciso identificar, assinalar e divulgar as coisas que estão andando bem no país. Não só porque as soluções exigem o diagnóstico correto (e esse não pode ser feito a partir de perspectivas unilaterais ideologicamente orientadas); mas também porque um indivíduo, tanto quanto um país, precisam de pontos de apoio, de referências, nos quais basear sua autoestima e seu encaminhamento. No presente momento, a negatividade está dada; é preciso insistir nela – mas ao mesmo tempo é preciso ainda mais, pois isso está suprimido, identificar os avanços, os feitos, todo e qualquer acontecimento ou presença, entre nós, daquilo que desejamos consolidar, desdobrar e aprofundar.

Assim, não deveria ser considerado um ato suspeito de adesismo afirmar e divulgar feitos notáveis, por exemplo, do governo Dilma, tais como: a Política Nacional de Participação Social, o Minha Casa, Minha Vida (com todas as limitações e problemas), o Mais Médicos, o Marco Civil, a PEC do trabalho escravo, entre outros. Isso também   é o governo Dilma, e será importante sabê-lo em outubro, quando será feito, espero, um cálculo complexo de prós e contras. No momento em que vivemos, me parece fundamental saber separar a crítica às instituições – isto é, a seu modo de funcionamento atual – da recusa à institucionalidade. A negatividade absoluta de alguns, sempre pondo em suspeição qualquer interlocução programática com as instituições, desune, é inútil e mesmo perigosa. A negatividade deve estar a serviço da reforma das instituições, e não de sua anulação. É oportuno lembrar que "criticar" significa etimologicamente separar  , e é disso que precisamos agora: saber separar os ganhos sociais dos atrasos sociais, os prós e os contras, às vezes no interior de uma mesma entidade política, de um mesmo processo, de modo a tentar consolidar uns e minimizar os outros.

Amanhã estarei torcendo pela seleção e por todos os grevistas.

 


"Cbic"

 

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