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05/11/2010

Desafios para 2011-14

CBIC Clipping

05/11/2010 :: Edição 002

Jornal Valor Econômico/BR   |   /05/11/2010

Desafios para 2011-14

Armando Castelar Pinheiro

 Esta foi uma semana de celebração para a presidente eleita, Dilma Rousseff. Logo, porém, ela terá de começar a trabalhar para que as expectativas nela depositadas não se frustrem. Que desafios encontrará? Na economia, a presidente herda um país com boa imagem perante os investidores estrangeiros, um Produto Interno Bruto (PIB) em expansão e taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, mas também com déficit em conta corrente alto e em alta, expectativa de inflação acima da meta, queda de confiança na contabilidade fiscal, e câmbio no nível mais apreciado desde novembro de 1998. Reequilibrar e recuperar a confiança no tripé da política macroeconômica será um desafio mais ou menos urgente para a nova equipe.

 Em uma ótica de médio prazo, a nova administração enfrentará dois grandes desafios: a dificuldade de sustentar o crescimento e a perda de competitividade da indústria nacional.

 Uma análise das fontes de crescimento do PIB no Brasil nos últimos 15 anos revela dois fatos principais.

 Um, que o crescimento médio foi relativamente modesto, 3,2% ao ano; outro, que o aumento do emprego (1,2 ponto percentual) contribuiu mais para a expansão do PIB que a acumulação de capital (1,1 ponto) ou o aumento da produtividade (0,9 ponto).

 A nova administração provavelmente quererá manter o crescimento do PIB próximo a 4,5%, a média dos últimos cinco anos. Mas a transição demográfica e a atual da taxa de desemprego, em nível recorde de baixa, farão com que o fator trabalho contribua menos para o crescimento na próxima década: cerca da metade ou menos do que nos últimos 15 anos (0,5 ponto). Assim, mesmo assumindo um maior crescimento da produtividade, a sustentabilidade do crescimento exigirá acelerar a acumulação de capital e, portanto, uma taxa de investimento mais elevada.

 É provável que esta suba no próximo governo, ainda que talvez menos do que o desejado. A incerteza chave é como essa alta vai ser financiada. Uma alternativa é o Brasil aumentar a sua taxa de poupança, que se mantém em torno de 17% do PIB há duas décadas. O ideal para isso seria elevar a poupança pública corrente primária e tornar a política de crédito público contracíclica, permitindo ao Banco Central baixar a taxa de juros sem pressionar a inflação. Outra alternativa é financiar a alta do investimento com poupança externa, expandindo o déficit em conta corrente.

 O outro desafio é aumentar a competitividade do produtor nacional, que vem caindo em quase todos os setores, exceto os ligados à agricultura, à mineração e a certos serviços. O Brasil só investe 2% do PIB em infraestrutura e tem uma carga tributária de 35% do PIB, maior e mais complexa que seus concorrentes. A escolaridade média da força de trabalho é baixa, só 7,5 anos para a população com 15 anos ou mais (7,8 anos na média mundial e 8,3 na América Latina), e o ambiente de negócios ruim-o Brasil ficou na 129a posição entre 183 países no Doing Business 2010.  Esses são velhos problemas.

 Menos discutido é o aumento do custo do trabalho. Em dólares, o salário médio na indústria de São Paulo mais que dobrou nos últimos dez anos, e aumentou 73% nos últimos cinco. Mesmo controlando para o aumento da produtividade, essas são altas substanciais.

 Dada a conjuntura econômica internacional, e na ausência de uma resposta política, o real tende a apreciar mais. Como o próximo governo pode fazer frente a essa pressão? A resposta ideal seria, de novo, o ajuste fiscal, acompanhado de políticas de competitividade, que ataquem os "velhos problemas".

 Mas é pouco provável que esse seja adotado. Como diz Tony Blair, em política, quando as pessoas repetem o mesmo ponto de vista várias vezes, é porque elas realmente acreditam no que estão dizendo.  Depois de afirmar tantas vezes que um ajuste fiscal não é necessário ou desejável, dificilmente a presidente Dilma agora o adotaria.

 Assim, seja para ajudar a financiar o aumento do investimento, seja em consequência da pressão cambial externa, o déficit em conta corrente deve aumentar nos próximos anos. Há cinco anos ele aumenta à taxa de 0,8% do PIB a cada doze meses, a despeito da melhoria dos termos de troca. Esse ritmo não difere muito do observado na Espanha entre 1997 e 2007, num contexto semelhante, marcado pela introdução do euro, com queda dos juros e larga oferta de financiamento barato.
 Acontrapartida será a apreciação do real e a consequente mudança na estrutura produtiva do país.

 Esse pode não ser um cenário ruim, caso se trabalhe em três dimensões: limitar a expansão do déficit e a qualidade do seu financiamento para evitar uma crise quando dentro de alguns anos os juros subirem no G-3; canalizar a poupança externa para o investimento, sem deslocar a poupança doméstica; e investir na solução das demais restrições à nossa competitividade para o setor produtivo se adaptar crescendo em produtos mais sofisticados.

 Há, portanto, mais de uma resposta aos desafios que se colocarão nos próximos anos, mas ela precisa ser interna e intertemporalmente consistente.

 Armando Castelar Pinheiro , pesquisador do IBREFGV e professor do IEUFRJ. Escreve mensalmente às sextasfeiras.

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