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AGÊNCIA CBIC

15/03/2011

As promessas da economia verde na Amazônia

15/03/2011 :: Edição 056

Jornal Valor Econômico/BR  |   15/03/2011

as promessas da economia verde na amazônia

Sustentabilidade: Jacques Marcovitch escreve sobre os desafios do chamado
novo capitalismo.

Ricardo Abramovay

Gestão da Amazônia, Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e
Propostas

De Jacques Marcovitch. Editora Universidade de São Paulo (Edusp), 312
páginas, R$ 48,00

Pecuária, soja, energia e minérios: esses são os vetores estratégicos que
norteiam a maioria dos atores privados e públicos na Amazônia brasileira. Os
efeitos são bem conhecidos. Não se criam cadeias produtivas capazes de agregar
valor ao que se faz localmente. A esmagadora maioria dos estímulos sinaliza aos
agentes econômicos vantagens de um comportamento predatório que já comprometeu
nada menos que 15% da maior área de floresta tropical do mundo e que está na
raiz de sua imensa pobreza. Apenas 12% dos domicílios na Amazônia são
beneficiados por saneamento básico. O próprio poder público contribui de
maneira significativa para esse quadro desolador, não só pelo financiamento de
iniciativas pouco inovadoras, como a pecuária, mas também pela implantação de
obras que acabam resultando em pressão ainda maior sobre a floresta e pela
generalização do trabalho mal pago e pouco qualificado. Dos 73 milhões de
hectares derrubados na Amazônia, 60 milhões voltam-se hoje à pecuária.

A mudança nesse quadro desolador felizmente já começou. Os mercados de
alguns dos produtos que dominam a ocupação da Amazônia submetem-se a pressões
socioambientais crescentes, que conduzem, muitas vezes, à melhoria dos
resultados de sua exploração, como no caso exemplar da moratória da soja. Ao
mesmo tempo, o maior controle sobre o desmatamento bem como a ampliação de
terras indígenas e de reservas florestais contribuem para atenuar, de forma
significativa, o ritmo da destruição que marca, de forma trágica, a história da
região até aqui.

Esses avanços, no entanto, não são suficientes para enfrentar o grande
desafio do século XXI em torno do qual se encontra a possibilidade de construir
nada menos que um novo capitalismo jamais imaginado pelos visionários de ontem.
É à análise desse processo incipiente que Jacques Marcovitch, professor da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), ex-reitor da
Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de um dos mais importantes
estudos sobre aquecimento global no Brasil, a Economia do Clima, dedica seu
novo livro: A Gestão da Amazônia: Ações Empresariais, Políticas Públicas,
Estudos e Propostas. Esse grande desafio do século XXI pode ser descrito em
torno de três eixos básicos.

Em primeiro lugar, é necessário fazer da valorização dos produtos e dos
serviços da biodiversidade uma fonte consistente de dinamismo econômico e de
coesão social. Está em jogo a passagem da economia da destruição da natureza
para um sistema inteiramente baseado em seu conhecimento, a economia da
floresta em pé. Não se trata apenas de proteção, mas de encontrar modalidades
de uso da floresta capazes, ao mesmo tempo, de garantir a manutenção de seus
serviços ecossistêmicos e a geração de renda para os que, ainda hoje, têm sua
existência precária, tantas vezes, baseada em práticas destrutivas.

Há, por exemplo, um imenso potencial nas dez mil espécies de uso medicinal
ou cosmético e nas mais de 300 espécies de frutas silvestres até aqui
catalogadas. Para que se tenha uma ideia do contraste entre os potenciais e o
que se faz na prática, apenas três óleos essenciais (extraídos da copaíba, do
cumaru e do pau-rosa) são hoje explorados comercialmente. Quanto à madeira,
hoje quase inteiramente exportada, a indústria naval local e a construção civil em cidades médias
poderiam ser beneficiadas por sua exploração. Mas, por incrível que pareça, não
existe até hoje indústria madeireira na Amazônia.

Além de seus produtos, a floresta amazônica estoca uma quantidade de carbono
equivalente a dez anos de emissões globais de combustíveis fósseis. Sem os
chamados rios voadores (vapor dágua transportado por massas de ar com um volume
maior que a vazão do rio Amazonas), o regime de chuvas em boa parte da América
do Sul estaria seriamente ameaçado. Um dos maiores desafios do novo capitalismo
a que se refere Jacques Marcovitch consiste exatamente em criar mercados
capazes de valorizar não só produtos, mas também os inúmeros serviços
ecossistêmicos que a floresta oferece à sociedade.

Mas essas oportunidades não verão a luz sem o segundo eixo de organização
desse novo capitalismo: a ciência. Apenas 5% dos cientistas brasileiros estão
na Amazônia e em condições de trabalho pouco estimulantes. Além disso, o
vínculo entre a produção científica e as demandas empresariais é ainda mais
precário que no restante do país. O resultado é um círculo vicioso em que uma
estrutura econômica de matriz quase colonial acaba inibindo a presença de uma
pesquisa à altura do desafio de conhecer sistemas naturais tão promissores.

O terceiro eixo refere-se à participação social. Parte do conhecimento atual
sobre a Amazônia vem de um conjunto de organizações não governamentais que
aliam estudos de boa qualidade com a valorização da participação social, não só
nas políticas públicas, mas num pequeno empreendedorismo que poderá florescer
com base em vínculos com grandes empresas. O novo capitalismo terá que
enfrentar o desafio não só de reduzir a pobreza e a desigualdade, mas também de
manter vivas as tradições culturais dos povos das florestas, entre os quais se
encontram 700 mil índios falando mais de 200 línguas.

Essa ligação entre ciência, iniciativa privada e organizações sociais está
no próprio livro de Jacques Marcovitch. Ele elaborou um questionário que
permite ao leitor conhecer as estratégias empresariais de dez companhias
presentes na Amazônia, entre as quais Walmart, Natura e Vale do Rio Doce. Por
outro lado, entrevistou também sete especialistas vindos do mundo universitário
e associativo. O resultado é um dos mais ricos panoramas sobre o que fazem e
querem fazer hoje alguns dos mais importantes protagonistas do destino da floresta
amazônica brasileira.

Ninguém pode garantir que o novo capitalismo vislumbrado no livro de Jacques
Marcovitch vai, de fato, tornar-se dominante. Mas não há dúvida de que sua
construção tornou-se um item incontornável da agenda dos atores sociais da Amazônia,
apesar da imensa e óbvia resistência que ele tem pela frente.

O livro Gestão da Amazônia, Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos
e Propostas será objeto de debate amanhã, às 11h30, na Sala da Congregação da
FEA/USP, com a presença do autor e de especialistas no tema.


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