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25/11/2021

Artigo – Por que ESG nos Projetos?

Marcelo Figueiredo é membro do Comitê de Inteligência Estratégica da Comissão de Obras Industriais e Corporativas (COIC) da CBIC

Em tempos marcados pela pandemia global da Covid-19, os movimentos relacionados aos direitos humanos, conflitos raciais, riscos ambientais, aliados ao desemprego em altos níveis induzem a pressões de diversos setores por mudanças estruturais na sociedade. Assim, cada vez mais é cobrada das empresas atuação permeada por responsabilidade ambiental e social, além de boas práticas de governança.

Isso vale para os negócios correntes, mas especialmente para os novos investimentos. Investidores do mundo inteiro estão cada vez mais conectados e exigentes em relação as práticas e conceitos de ESG (ASG, em português), acrônimo para Ambiental, Social e Governança.

Para colocar dinheiro em uma empresa ou projeto, o investidor avalia um conjunto de critérios não-financeiros (os critérios de ESG), criando rankings e classificações para as empresas e projetos mais ou menos engajados com essas práticas.

Na realidade a percepção de risco associada a esta visão, diante de problemas vividos por empresas como BP (Golfo do México, 2010) e Volkswagen (Alemanha, 2015) e suas consequências, levam os investidores a fazerem rigorosas diligências e analises antes de colocarem seu dinheiro em alguma empresa e projeto, afetando seu valor e atratividade.

Para esse debate, inicialmente é essencial entender que ESG não é CSR! Muitas vezes já ouvi de algumas pessoas (antes mesmo de completar minhas argumentações):

“Ora, já praticamos CSR aqui na empresa, e nossos investimentos todos estão em linha com as práticas de CSR. Somos muito responsáveis socialmente”.

Em boa parte das vezes isso é até verdade, todavia é importante “ser e parecer”.  Não adianta somente dizer que tem responsabilidade, seus números e indicadores precisam dizer isso também.

Afinal, qual é a diferença entre essas letrinhas que a gente tanto fala?

Responsabilidade Social Corporativa (CSR) – Explica como uma empresa se comporta em relação as práticas de responsabilidade social – Relatórios de sustentabilidade qualitativos

Gestão Ambiental, Social e Governança Corporativa (ESG) – Codifica Critérios que as empresas reportam – Ranking observando os mesmos critérios, possibilitando a comparação entre pares.

A alocação de capital nas empresas identificadas com os conceitos de ESG é hoje em dia um movimento considerado por fundos de investimento como algo seguro e rentável, e podemos ver diversos exemplos mundo afora desta afirmação. 

Por que ESG em projetos de capital e como implantar um sistema eficiente em seu projeto?

Olhando agora pelo lado das empresas (em especial as indústrias e os prestadores de serviço), aderir aos padrões ESG é uma oportunidade de buscar sustentabilidade a longo prazo, ter mais eficiência nos projetos e operações, além de aportar elevada resiliência durante crises.

Os projetos de capital sempre têm uma imagem fortemente associada a riscos, afinal uma boa ideia de negócio nem sempre estará associada a uma implantação de sucesso e consequente rentabilidade e sustentabilidade.

A sociedade cada vez cobra a licença social dos projetos, e a falta de uma abordagem estruturada em ESG pode feri-los de morte. Neste contexto o ESG torna-se fundamental para os projetos, uma vez que permite às empresas melhorar sua imagem perante investidores, sociedade civil e clientes, ajudando a viabilizar os projetos.

Existem hoje várias metodologias e certificações para ESG, porém qualquer que seja o método a ser utilizado é melhor começar certo desde o início. Sendo assim, construir uma política clara, que permeie toda a organização, com anuência do investidor e da sociedade é essencial. Portanto, já durante as fases de pré-viabilidade e viabilidade dos projetos, os aspectos relacionados a conceitos e práticas de ESG tem que estar lado-a-lado com os parâmetros operacionais e financeiros da empreitada.

Minha vivência e estudos sobre o tema me levam a concluir que para um modelo de implantação de conceitos e práticas de ESG em projetos de capital devemos levar em consideração:

  • Os objetivos devem estar claros, transparentes e os dados precisam ser comparáveis
  • Os Relatórios de ESG se destinam a diversos stakeholders, portanto devem refletir genuinamente os valores e a qualidade da gestão e governança
  • As políticas devem estar desdobradas e sua implementação deve ser medida por indicadores
  • Pesquise o setor e as agências de risco e estabeleça um monitoramento estruturado e ativo
  • Debata temas de longo prazo, como as convergências entre ESG/análise financeira e a avaliação do projeto e sua viabilidade
  • Informações de progresso e ferramentas de monitoramento devem estar sempre disponíveis

Uma sugestão de estruturação abaixo:

Assim como em outras áreas da gestão empresarial, existem diversas metodologias e ferramentas para a implementação de ESG em projetos. Entretanto, a mensagem mais importante que procuro deixar aqui é a da necessidade de se pavimentar o caminho do sucesso de seus projetos com as práticas e indicadores de ESG sendo genuinamente e precocemente parte de sua elaboração e intrinsicamente inseridas em sua gênese.

*Artigos divulgados neste espaço são de responsabilidade do autor e não necessariamente correspondem à opinião da entidade.

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