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04/09/2019

Desplacamento cerâmico: construção civil defende rápida resolução

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) está atenta aos efeitos causados ao mercado imobiliário pela manifestação patológica generalizada, denominada ‘desplacamento cerâmico’.

No último dia 14 de agosto, o vice-presidente da Área de Inovação da CBIC e presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat) da entidade, Dionyzio Antonio Martins Klavdianos, participou de fórum da cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, para acompanhar a primeira audiência pública envolvendo construtora e fabricante para tratar das suas respectivas responsabilidades referentes aos problemas acarretados pela utilização e posterior desplacamento de cerâmica no revestimento interno de alguns prédios da cidade catarinense.

Dionyzio Klavdianos é engenheiro civil, formado há 36 anos pela Universidade de Brasília (UnB), e já atuou como engenheiro de projetos, por dois anos, e de obras, até o momento e, à medida que adquiriu experiência, se tornou diretor técnico da empresa Itebra Construções e Instalações Técnicas.

Em entrevista exclusiva ao CBIC Hoje+, Klavdianos destaca o trabalho realizado pelo setor da construção para que o incorporador possa ter tranquilidade suficiente de projetar, construir e entregar um prédio de boa qualidade e desempenho a preço justo, sabendo que, no caso de uma ocorrência patológica, trabalhará em harmonia com a cadeia envolvida para a pronta resolução do problema.

Confira, a seguir, trechos da entrevista:

CBIC Hoje+: Desde quando o senhor sabe que essa patologia vem ocorrendo?
Dionyzio Antonio Martins Klavdianos: A partir de 2014 começamos a escutar relatos de algumas entidades do setor da construção, as de São Paulo principalmente. Desde então, a intensidade de queixas veio num crescente e no início de 2017 concluímos que a luta deveria ser unificada.

C.H.: Já foi feito algum seminário ou evento com os principais especialistas e construtores nacionais para discutir esta patologia?
D.A.M.K.: Sim, desde seminários específicos, organizados por entidades e instituições afins ao assunto ou de representantes de classe, como os Sinduscons (Sindicatos da Indústria da Construção nos Estados), até painéis em feiras de construção.

C.H.: O senhor tem conhecimento se essa patologia atingiu várias construtoras do país, inclusive as maiores?
D.A.M.K.: Atingiu. Por ocasião da nossa participação na referida audiência pública, organizamos um levantamento prévio nacional, ainda em andamento, para nos certificarmos do real alcance do fenômeno. Com os dados que dispomos até agora, já são 49 empresas atingidas, de diversos portes, com obras em 66 cidades, de 17 estados de todas as regiões brasileiras, totalizando mais de 2.600.000,00 m² de cerâmicas desplacadas.

 

C.H.: O senhor acredita que em função da alta demanda de moradia nos anos de 2012/2014, aspectos como terceirização de fabricação ou necessidade de aumento da produtividade na produção podem ter impactado o controle de qualidade de produto cerâmico?
D.A.M.K.: Do tempo em que estamos envolvidos com a questão, em diversas reuniões com técnicos afeitos ao tema, esses aspectos foram alguns dos mencionados como prováveis fatores de causa da patologia. Objetivamente, para atender à demanda, o tempo de cozimento da cerâmica foi menor que o usual. Esse fator, associado a outros posteriores, pode ter contribuído para o desplacamento das cerâmicas.

Ainda não tivemos oportunidade de analisar em profundidade os dados recebidos, mas, de fato, o maior percentual de ocorrência da patologia parece ter ocorrido no período áureo do mercado imobiliário de alta demanda por imóveis. Todavia não se pode ainda, com os resultados laboratoriais que dispomos e respectivas análises e conclusões, afirmar com segurança o que causou a patologia.

C.H.: Você já teve conhecimento de patologia nessa magnitude ao longo de sua vida profissional?
D.A.M.K.: Na magnitude citada aqui na entrevista, principalmente em se tratando de revestimento interno, nunca.

C.H.: Como as associações de abrangência nacional, à exemplo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), estão tratando esse assunto nacionalmente?
D.A.M.K.: A CBIC é a instituição de maior representatividade entre as construtoras nacionais. Assim que se apercebeu da magnitude e gravidade do problema passou a interagir mais com os construtores e arregimentar técnicos que lhe auxiliassem no entendimento do problema. Importante frisar que, antes dela, entidades locais, notadamente o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), já se mobilizavam tentando levantar a extensão do problema e promover ações de entendimento e levantamento de responsabilidades com, por exemplo, a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica (Anfacer).

C.H.: Por que a CBIC está envolvida no processo de investigação dessa grave patologia?
D.A.M.K.: Como dito anteriormente, a CBIC é a maior representante das construtoras brasileiras e o problema generalizou-se, ao menos 2.600.000,00 m² de cerâmica desplacada! Não poderíamos deixar que a atenção ficasse restrita a ações pontuais ou individuais de cada sindicato, precisávamos unificar a atuação.

É importante tirarmos lições do ocorrido e, no curto prazo, colaborar com as empresas na busca do caminho a seguir em eventuais contendas judiciais. Depois, compreendida a gênese da patologia, promover a elaboração de especificações técnicas de compra que previnam a empresa de problemas similares. Por fim, as normas técnicas diretamente ligadas ao tema, notadamente as ABNT NBR-13753 (Revestimento de piso interno ou externo com placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante – Procedimento) e NBR-13754 (Revestimento de paredes internas com placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante – Procedimento) devem ser revisitadas sob a luz do tanto de conhecimento adquirido no debate atual acerca da referida patologia. O processo de fabricação de cerâmica precisa de fato enquadrar-se a padrões globalizados – é questão de viabilidade da nossa indústria –, mas eventuais impactos técnicos nocivos no processo construtivo devem ser evitados a qualquer custo.

Não podemos deixar de frisar que o assentamento cerâmico é ainda um processo eminentemente tradicional, em que várias condicionantes, algumas de difícil controle, interferem. Devemos sensibilizar a indústria a aderir – na verdade viabilizar economicamente – técnicas e processos mais modernas e avançadas tecnologicamente.

No momento, a ABNT/ NBR- 15575, Norma de Desempenho, passa por revisão. O caso do desplacamento generalizado é emblemático do quanto o respeito ao texto dessa norma é importante e precisa ser sempre aprimorado. As responsabilidades de cada um dos intervenientes no processo de aquisição e instalação de material ou serviço devem ser assumidas altaneiramente, para que o incorporador, que é quem se relaciona com o cliente final, possa ter tranquilidade suficiente de projetar, construir e entregar um prédio de boa qualidade e desempenho a preço justo, sabendo que, no caso de uma ocorrência patológica, trabalhará em harmonia com a cadeia envolvida para a pronta resolução do problema, sem a necessidade de contendas jurídicas, que maculam a imagem da indústria da construção e causa incalculável desserviço para sociedade. Devemos todos, fabricantes e construtores, nos unir em prol do restabelecimento da confiança na aquisição e assentamento de uma placa cerâmica.

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