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22/05/2018

Transformações no mercado imobiliário exigem atenção dos empreendedores

Incorporadores precisam conhecer as tendências, os novos produtos tecnológicos e hábitos de consumo para estar na vanguarda do setor

A reinvenção do mercado imobiliário, com a finalidade de acompanhar as correntes mudanças, deve acontecer em diferentes esferas, assegura Alexandre Lafer Frankel, CEO da construtora Vitacon. O modelo de comercialização é considerado bem antiquado, pelo empreendedor, da forma como é realizado hoje; o funding, fundamental para o setor, precisa de outras fontes de recursos e de mecanismos mais rápidos e eficientes, com melhores taxas de juros e prazos; e, quanto ao produto, é preciso ouvir mais os clientes, seus desejos e dores, trabalhando de trás para frente – sabendo do que o consumidor precisa, primeiro, para depois entregar. “Temos que gerar mais tempo, mais eficiência e uma vida muito mais leve para nossos clientes”, traduz Frankel.

“Vejo cada vez menos sentido e menos na cultura das pessoas o ato de comprar um imóvel”, considera o empresário. Em sua visão, as pessoas vão passar a consumir, a utilizar os imóveis, em diversos formatos. “Temos que pensar e criar soluções para que elas possam utilizar o bem, sem necessariamente comprá-lo. Essa é a próxima grande tendência”.

Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a qual incluiu a temática de tendências e novos produtos imobiliários – com o apoio do Senai Nacional – na programação do 90º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), concorda com essa previsão: “Vai haver necessidade de, nos próximos tempos, os incorporadores e os agentes financeiros desenvolverem produtos para os Millennials [ou Geração Y], que têm uma cabeça completamente diferente e não veem a propriedade e a aquisição da casa própria como uma coisa fundamental para suas vidas, diferentemente das gerações passadas”.

Dentre outras grandes tendências do mercado, atualmente, Frankel lista: a mobilidade, devido ao desejo das pessoas de chegarem mais rápido aos seus destinos; o compartilhamento (desde uma sala de jantar até um carro), sendo imperativo que o mercado aprenda a trabalhar com economia compartilhada; a compactação dos imóveis, a partir do surgimento de famílias menores e do aumento de solteiros; e a tecnologia embarcada, ou seja, a aplicação da tecnologia para encontrar novas soluções dentro de um imóvel. “Há uma leitura muito clara de que isso vai acontecer rápido”, diz.

Rodrigo Bicalho, sócio do escritório Bicalho e Mollica Advogados, já tem acompanhado as discussões jurídicas em torno dos novos produtos imobiliários. Os de maior destaque são: o coworking, uma evolução dos espaços compartilhados de trabalho; o coliving, que é o compartilhamento da mesma unidade habitacional por mais de uma pessoa de famílias diferentes; a locação de espaços por plataformas digitais, como o Airbnb; a edificação de empreendimentos já preparados somente para locação e para um público específico, como moradias estudantis ou para idosos; e a multipropriedade, que é uma propriedade compartilhada por diversos compradores que a utilizam em épocas diferentes.

PROPAGAÇÃO DAS TENDÊNCIAS

“Essas tendências serão replicadas em todos os lugares”, garante o dirigente da Vitacon. A empresa, famosa por lançar apartamentos de 10 m² e especialista em apartamentos compactos, de 30 a 40 m², está na vanguarda do setor. Frankel observa que cada cidade tem suas particularidades. “Mesmo em São Paulo, cada bairro é diferente um do outro, então depende do que aquela população local exige. Mas, independentemente do grau de intensidade, a mudança vai acontecer e, hoje, ela é globalizada”.

Esses novos produtos se espalharão por outros mercados, também acredita Bicalho. No caso do coworking, embora haja uma concentração em São Paulo, o advogado afirma que, certamente, em menor escala, teremos esse produto em outros centros empresariais, como Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. “Principalmente nas organizações menores, ou até pelo próprio empreendedorismo das pessoas que buscam desenvolver um negócio próprio, a aquisição ou o aluguel de uma sede física de escritório acabam sendo pouco versáteis e muito caros”, ressalta. A locação por plataforma digital igualmente já é observada em diversas áreas, especialmente no turismo; e a multipropriedade se desenvolve bastante em várias cidades do Brasil, como nas áreas turísticas de Caldas Novas, Gramado e no litoral do Nordeste.

MOVIMENTAÇÃO DO SETOR

“Nós não fizemos nada de errado, mas de alguma forma, perdemos”. Frankel recapitula a célebre frase do CEO da Nokia para demonstrar como a inércia, em um mercado em transformação, pode ser prejudicial. “O mercado precisa se reinventar, senão vai ficar antiquado, não vai mais atender ao que o cliente quer. Não temos opção. Se não mudarmos, seremos mudados de alguma forma”, decreta o empresário. Para não se perder em meio a tantas mudanças, é necessário estar antenado às tendências, ao dinamismo da vida moderna, às novidades tecnológicas e aos presentes hábitos de consumo. “As pessoas buscam ser mais saudáveis e ter mais tempo, e a composição familiar está mudando. O mercado imobiliário precisa acompanhar e produzir imóveis adequados”, indica.

Uma parte dos empresários já está bem atenta a esses novos produtos, mas parte ainda prefere trabalhar com seus produtos tradicionais, pondera Bicalho: “Diria que não é uma unanimidade, até porque a existência desses produtos novos de forma alguma vai fazer com que os produtos tradicionais acabem. Uma família tradicional, com dois ou três filhos, não vai morar em um coliving. O escritório de uma empresa que tenha um número grande de funcionários dificilmente será em um ambiente de coworking. Então a demanda por um produto tradicional vai continuar ocorrendo. Esses recentes produtos apenas buscam trazer um novo tipo de visão, principalmente do jovem empreendedor”.

Quem acaba sendo precursor nesses novos produtos tem a grande vantagem de sair na frente, segundo o advogado, absorvendo primeiro o novo mercado e ganhando uma marca. Por outro lado, essa empresa é a primeira a enfrentar os problemas e conflitos do desbravamento.

Entretanto, caso os incorporadores imobiliários queiram agregar diferenciais às suas empresas e aos seus produtos, explica Celso Petrucci, terão que abrir suas mentes para inovações tecnológicas e de informação, análise de inteligência de mercado com big data e uma série de coisas que, hoje, ainda não são utilizadas no desenvolvimento de produtos e ações de marketing. “Estamos entrando em uma fase de mercado em que é muito importante que os incorporadores mantenham suas empresas atualizadas com tudo o que está acontecendo para não ficarem para trás em relação à concorrência”, alerta o presidente da CII/CBIC.

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