A parte que cabe às empresas

O Globo

A parte que cabe às empresas 

Organizações apostam em iniciativas gratuitas de qualificação profissional para jovens

 P ara as empresas, o fato de haver uma geração "nem nem" não é bom. Representa o risco, cada vez maior, de apagão de talentos e de falta de mão de obra qualificada – problema, inclusive, já apontado por muitas companhias. Na tentativa de contribuir com a inclusão dos jovens no mundo "com com" e também para treinar pessoal para o mercado, muitas empresas apostam em iniciativas gratuitas de qualificação.

 – As ações de responsabilidade social das empresas são uma solução para a parte urgente do problema – afirma Hilda Alves, gerente de Pesquisas do Sistema Firjan.

 A Coca-Cola, por exemplo, desde 2009 tem a plataforma Coletivo Coca-Cola, que capacita jovens de comunidades urbanas de baixa renda, com idades entre 15 e 25 anos – no Rio, há 20 comunidades participantes. As inscrições, inclusive, estão abertas para o curso de formação na área de varejo. Ao término das aulas, que duram dois meses, os alunos são direcionados para processos seletivos em empresas parceiras ou podem buscar colocação profissional no mercado.

 – O varejo é uma boa porta de entrada, mas não é a única. O importante é que o aluno descubra seu potencial e desenvolva um propósito de vida – afirma Claudia Lorenzo, diretora de Negócios Sociais da Coca-Cola Brasil.

 A empresa do setor imobiliário PDG, em parceria com a ONG Rio de Paz, que fica na comunidade do Jacarezinho, também está com inscrições abertas para o curso "Iniciação Profissional na Construção Civil" projeto que começou há um ano. Para Cláudio Hermolin, diretor regional da PDG Rio, as empresas também têm o papel de contribuir com o acesso ao mercado.

 – Buscamos contribuir com programas de capacitação de mão de obra básica para a construção civil, servindo de base para estimular a pessoa a querer fazer carreira dentro do nosso mercado e, consequentemente, se aprimorar com cursos de capacitação, profissionalizantes e até de formação superior – diz Hermolin.

 UNlÃO DA SOCIEDADE CIVIL

 Para o diretor da PDG Rio, é importante que diferentes setores se unam para viabilizar iniciativas desse tipo, que aumentem a inclusão dos "com com"

 – Acreditamos que a união da sociedade civil pode contribuir de forma significativa para vencermos esse desafio. Por isso, buscamos para esse projeto o apoio do Seconci (Serviço Social da Construção Civil), que já possuía o modelo de qualificação de mão de obra para a construção civil, e a ONG Rio de Paz, que já tinha uma base de trabalho dentro da comunidade, com salas de aula.

 Pensando pelo mesmo caminho e diante de um cenário de falta de mão de obra qualificada, a construtora Carvalho Hosken inaugurou, em abril deste ano, a Escola Carvalho Hosken de Desenvolvimento Profissional. A iniciativa é uma parceria com o Seconci-Rio, o Sinduscon-Rio e o Senai.

 – Qualificamos pessoas interessadas nos ofícios da construção civil e podemos contratá-las ou então elas podem ser encaminhadas a outras empresas. Qualificamos para o mercado e queremos ampliar as oportunidades de emprego – ressalta Yone Beraldo, gerente de marketing da Carvalho Hosken.

 CURSOS DE MADRUGADA

 Uma solução encontrada também pelo Sistema Fiijan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) foi oferecer cursos em horários alternativos: o Corujão e o Galo da Madrugada, cujas aulas acontecem das 3h às 7h ou das 4h às 8h, são bastante procurados.

 – São soluções urgentíssimas, que resolvem o problema de quem está "nem nem" agora. Mas é claro que não se pode pensar apenas em uma solução imediatista, já que o problema é estrutural – diz Hilda Alves.