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13/12/2010

O país cresceu de forma caótica

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13/12/2010 :: Edição 025

Jornal Tribuna do Norte Online – Natal/RN|   12/12/2010

O país cresceu de forma caótica

O Brasil é a maior reserva de terra agrícola parada no mundo. As grandes propriedades de mais de 10 mil hectares usam, em média, 4% ou 5% da terra que têm. Os pequenos produtores utilizam 65%. A estatística aponta para a necessidade urgente de reforma agrária. A análise é do professor Ladislau Dowbor, da PUC de São Paulo. Com a autoridade de quem é consultor de diversas agências das Nações Unidas, governos e municípios, Dowbor observa que o crescimento urbano no país ocorreu de forma  caótica , longe do identificado em países desenvolvidos. 

O Brasil herdou essa estrutura urbana extremamente desigual, com núcleo tradicional, relativamente mais próspero, cercado de periferias que têm dramas do tipo saneamento, gente vivendo à beira de esgoto a céu aberto e coisa do gênero. Estamos dentro de cada cidade com o século XXI e a Idade Média combinando , destaca o professor, que esteve no Rio Grande do Norte participando do Encontro de Iniciação Científica da Faculdade de Natal. Ladislau Dowbor defende o equilíbrio entre  cidade e campo , nesse contexto aponta como grande vantagem o fato do meio rural hoje já não está mais isolado em comunicação.  Digamos que há um casamento adequado de modernização da agricultura familiar fixando o homem no campo e há toda condição. Isso faz parte da outra dimensão que é a reforma urbana no sentido da gente reequilibrar as distâncias entre a cidade rica e a cidade pobre , frisa.

Em SP nós temos 6,8 milhões de carros na cidade e andamos a uma velocidade de 14 quilômetros por hora. A velocidade média é das carroças do início do século passadoO convidado de hoje do 3 por 4 traz uma verdadeira aula sobre os processos de desenvolvimento das cidades e suas interferências no campo. Com vocês o professor Ladislau Dowbor.

 O grande desafio das cidades seria aliar o crescimento urbano com o desenvolvimento sustentável?

 No caso brasileiro a urbanização foi extremamente acelerada e caótica. Se deveu em grande parte a uma expulsão rural e atração urbana. Se você comparar com o processo europeu a medida que ia se desenvolvendo a indústria, as manufaturas, houve uma urbanização. Então era uma atração por empregos. Nós em grande parte tivemos a exclusão no campo, que se deu durante o regime militar, mas ainda além. Tivemos um imenso êxodo rural. Éramos três quartos de população rural, em 1950 hoje somos 84% urbano. O que (o êxodo rural) é ligado a processos do nosso mundo rural, tanto a mecanização agrícola, expansão da monocultura que gera muito pouco emprego, a expansão da pecuária extensiva que gera pouquíssimo emprego, como a soja por exemplo. Com ela (a soja) você precisa de 200 hectares para gerar um emprego. Com 5 hectares em agricultura familiar você gera muito produto, mas gera também muito emprego. Então essa forma de expansão da agricultura e a não realização da reforma agrária, que poderia fixar o homem ao campo, traz esse problema. Queria lembrar que nós somos no mundo a maior reserva de terra agrícola parada no mundo. As grandes propriedades de mais de 10 mil hectares usam, em média, 4% ou 5% da terra que têm. Os pequenos produtores utilizam 65%.

 Então o desenvolvimento brasileiro passa por reforma agrária?

 Sem dúvida, a reforma agrária e a articulação adequada da relação cidade-campo é vital no processo. Você não resolve só no aspecto urbano que não se dê essas imensas periferias miseráveis que não é coisa de Nordeste por ser mais pobre, é assim em São Paulo, é assim no Rio de Janeiro e é assim nas grandes metrópoles do Brasil. Agora com as mudanças tecnológicas você pode estar no campo e não estar mais isolada. Veja o campo é hoje articulado com a cidade pela telefonia celular. Nós temos uma dimensão que é não só na cidade, mas na relação cidade-campo. Agora o processo é importante para entender porque o Brasil herdou essa estrutura urbana extremamente desigual, com núcleo tradicional, relativamente mais próspero, cercado de periferias que têm dramas do tipo saneamento, gente vivendo a beira de esgoto a céu aberto e coisa do gênero. Estamos dentro de cada cidade com o século XXI e a Idade Média combinando.

 Há como fixar o homem no campo no Brasil?

As desapropriações feitas têm mostrado que não são suficientes porque as famílias não conseguem implantar o trabalho que garanta sustentabilidade.  Tem exemplos para isso. Mas a agricultura familiar ela é relativamente mais produtiva a não ser para alguns grandes produtos, como a soja e outros. Mas isso é só olhar na Europa, que é baseada em agricultura familiar, eles têm que dar dinheiro para as pessoas não plantarem. Apesar de pouca terra, eles têm excedentes agrícolas para tudo que é lado. Você pega mesmo no Brasil 70% dos alimentos é de agricultura familiar. A soja é exportada, mas gera interesse para grandes grupos, apenas parcialmente o equilíbrio interno nosso. Pensam que agricultura familiar é pobrezinha, numa simplificação. Mas não é assim. A medida que entram novas tecnologias, que o agricultor não depende mais do atravessador para comercializar, você tem políticas de apoio, de transporte, de evacuação do produto adequados, as chamadas redes de sustentação e funciona no Brasil. Digamos que há um casamento adequado de modernização da agricultura familiar fixando o homem no campo e há toda condição. Com internet hoje, com banda larga você pode estar no campo e não estar mais isolado. Isso faz parte da outra dimensão que é a reforma urbana no sentido da gente reequilibrar as distâncias entre a cidade rica e a cidade pobre.

 O senhor acredita em desenvolvimento sustentável no Brasil?

 O desenvolvimento sustentável não é que goste ou não. É uma necessidade. Você pega uma cidade como São Paulo, é rica, R$ 29 mil per capita. É muito rica. E ela vive a beira de esgoto a céu aberto, o rio Tietê, o rio Pinheiros. São Paulo joga na bacia do Guarapiranga e como polui a própria água está buscando água a 150 quilômetros de distância. O sobrecusto por toda visão de que vender água é bom, mas esgoto não dá voto isso gerou um atraso tremendo. Por sua vez gera sobrecusto de saúde. A gente faz esses cálculos: R$ 1,00 que você coloca em saneamento é R$ 4,00 que você deixa de gastar com as doenças geradas. Então, o uso insustentável dos recursos ele leva a impasses econômicos. Lhe dou outro exemplo, em São Paulo nós temos 6,8 milhões de carros na cidade e andamos a uma velocidade de 14 quilômetros por hora. A velocidade média é das carroças do início do século passado. E mais está piorando. De prefeito em prefeito só acrescenta mais pistas para carro. Tivemos 16 anos de política do xuxu (em São Paulo), toda prioridade que não é sustentável. A pessoa ativa perde 2 horas e 43 minutos no transporte. Veja que esse é o tempo em que você não trabalha, não estuda, não descansa, pelo contrário se estressa, gera doença respiratória e perde esse tempo na hora efetiva. A sustentabilidade é bom senso econômico não é coisa simpática de quem gosta de passarinho e de borboleta. Já foi pensado muito assim. Tanto assim que os partidos ligados ao meio ambiente se chamam partido verde. Quando você faz programa como o Minha Casa, Minha Vida. Uma coisa é construir casa, mas na realidade você está tirando, em geral, as pessoas da beira dos córregos onde se geram doenças. Na realidade é uma política verde através desse processo. Quando você investe nessa política você está reduzindo o tempo. Junte diversos aspectos da sustentabilidade. Acrescente o fato do desafio climático que é hoje e está aí, quer a gente goste ou não. É bom senso fazer os cálculos e constatar a que ponto em termos econômicos a sustentabilidade não é apenas sacrifício que fazemos, quando poderíamos avançar mais rapidamente em termos econômicos. É bom senso no processo de aceleramento de transformações econômicas. Vou lhe dar um exemplo ilustrativo: a Coréia do Sul fez um programa de 36 bilhões de dólares de investimento em transporte coletivo urbano com tecnologias limpas, gerou cerca de 900 mil empregos, ou seja melhora em termos social,leva a Coréia a dar um salto em termos de tecnologia de transporte público, ela avança e toma dianteira na tecnologia da próxima geração. Ativa o país contra a pressão internacional. Tem um a convergência de impacto tecnológico, ambiental, econômico e social. e com as novas tecnologias o transporte coletivo emite muito menos do que transporte individual. É bom senso. Tem muito verde que se acha meio zen, mas é bom senso.

 O Brasil está prestes a sediar a Copa de 2014. E o senhor já fez um estudo sobre o reflexo de grandes eventos nas cidades, como ocorreu em Barcelona. Quais os reflexos desse evento para o país: é mais gasto do que investimento?

 Como sempre são oportunidades. Quando você tem eventos em que grande parte do planeta está lhe olhando, isso gera uma força interna, para um conjunto de iniciativas que vale a pena aproveitar. O exemplo de Barcelona está aí. Como temos os exemplos de elefantes brancos construídos e que depois que termina o evento é lamentável.

 O Brasil não corre esse risco de deixar  elefantes brancos ?

 Não tenho dúvida que a gente corre esse risco pelo fato muito específico de que no Brasil esse tipo de grandes construções estão nas mãos de meia dúzia de grandes empreeiteiras que trabalham interligados. Não há mercado e nem mecanismo de concorrência nesse processo. Eles articulam quem faz o que. A opção é sempre o máximo de obra, o máximo de cimento, o máximo de contratos e não a visão integrada de dinamização das diversas cidades que vão participar do processo. Quando você tenta ser mais simpático em termos internacionais não é construir resorts belíssimos, essas coisas, você ter uma redução da pobreza e, portanto, da criminalidade. Você articular política de infra-estrutura, que exige para um evento internacional, com um conjunto de iniciativas de saneamento básico, que atinge diretamente a melhora da faixa mais pobre da população é muito positivo. Eu pego coisa prática: cmainho aqui (em Natal) nesses dois dias que fiquei e vejo lixo por todo lado.

 O Brasil não está preparado para a Copa de 2014?

 Acho que o Brasil está preparado para 2014 ninguém tira. Mas falo é do correto aproveitamento. O grande foco da imrpensa e das grandes construtoras é a obra, mas chamo atenção para o conjunto do entorno huamno, social, ambiental que torna o evento um sucesso proque as pessoas precisam se sentir bem. A cidade vai ganhar porque terá utlizado a pressão em cima das infra-estruturas do evengto para resolver conjunto de problemas sociasi e ambientais.

 Detalhes

 Cidade que aproveitou grande evento: essencialmente Barcelona. Temos como evento 2012 o grande evento Rio +20, que é sobre meio-ambiente. Dá para pensar em um conjunto de melhoria, o Rio estará na vista mundial em termos da temática ambiental. Temos a Copa e Olimpíadas. Há um conjunto de fatores que é aproveitar bem.
 País como exemplo de desenvolvimento sustentável: poderia citar países mais ricos, como o Canadá. No nosso continuente temos a Costa Rica que é muito interessante como desenvolvimento susetntável. No Braisl tem regiões com equilíbrio social e ambiental, como Santa Catarina e Paraná.

 Perfil

 Ladislau Dowbor é formado em Economia Política pela Universidade de Lausanne, na Suíça, e doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística da Varsóvia, Polônia. Além de ser professor titular da PUC-SP, ele é consultor de diversas agências das Nações Unidas, governos e municípios. Particularmente, o professor presta consultoria para a organização de sistemas descentralizados de gestão econômica e social, como os governos de Costa Rica, Equador e África do Sul. Ladislau estará à disposição para entrevistas nos turnos manhã e tarde da próxima segunda-feira.

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