AGÊNCIA CBIC
Distância entre oferta e demanda cresceu no fim do ano
13/02/2015 |
Valor Econômico – 13 de fevereiro Distância entre oferta e demanda cresceu no fim do ano Por Arícia Martins | De São Paulo Indústria e varejo mostraram um comportamento descendente e mais alinhado ao longo de 2014, mas a diferença entre a trajetória da produção e das vendas aumentou nos últimos meses do ano. Enquanto o volume de vendas do varejo ampliado, que inclui automóveis e material de construção, subiu 2% entre o terceiro e o quarto trimestres, feitos os ajustes sazonais – primeira alta após quatro recuos seguidos – a produção do setor de transformação encolheu na mesma intensidade. Os dados são da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), ambas do IBGE. A atividade da indústria manufatureira terminou o ano em nível 4,3% inferior ao de 2013, tombo mais forte que o das vendas, de 1,7%. Em todos os meses de retração do comércio ampliado no acumulado em 12 meses – setembro, outubro, novembro e dezembro, as quedas na indústria sempre foram mais expressivas (ver quadro). Na média do primeiro semestre, também considerando a variação acumulada em 12 meses, a diferença entre o crescimento das vendas e da produção foi de 1,6 ponto percentual, descompasso que aumentou em um ponto na média da segunda metade de 2014. Para a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thais Zara, alguma antecipação das compras de Natal em novembro pode ter ajudado o comércio a mostrar recuperação no fim do ano, embora essa trajetória não seja sustentável. Thais considera que o processo de ajuste de estoques, que levou a indústria a segurar a produção, foi o principal determinante para o maior descolamento entre oferta e demanda. Segundo dados da Sondagem da Indústria de Transformação, da FGV, o nível de inventários do setor teve leve piora entre dezembro e janeiro, com alta de 1,1%. Conforme a entidade, boa parte da redução de mercadorias paradas ocorreu no fim de 2014. "O acúmulo de estoques impediu qualquer tipo de reação da indústria à recuperação de curto prazo do varejo", concorda Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, para quem os dois setores devem mostrar enfraquecimento adicional em 2015, com queda mais acentuada na indústria. Para a Tendências, a produção industrial vai encolher 2,8% este ano. Já a previsão atual de estabilidade para as vendas ampliadas está em revisão. Devem ficar negativas. O professor da Unicamp Júlio Gomes de Almeida destaca que, considerando apenas as vendas restritas, o descolamento entre oferta e demanda do fim de 2014 é ainda mais elevado, já que as vendas nesse conceito cresceram 2,2% em 2014. Para ele, os principais determinantes do consumo – emprego e renda – não tiveram performance tão ruim e amorteceram a perda de fôlego do comércio. Na indústria, diz Almeida, outros fatores têm influência maior, como crédito – importante para o segmento de bens duráveis, cuja atividade caiu 9,2% em 2014 – e decisões de investimento, diretamente relacionadas à produção de bens de capital. Para Thais, o enfraquecimento da exportação ajudou a derrubar a produção. Em 2014, a venda ao exterior caiu 7% – 13,7% entre os bens industrializados. |
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